domingo, abril 28, 2024
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A sexualidade feminina, problemas do assoalho pélvico e autoconhecimento. Como a fisioterapia pode socorrer nesta questão?

Por Dr. Marcio Rogério Renzo

 

A sexualidade, o corpo e o gênero são assuntos que sempre causaram polêmicas, dúvidas e divergências em nossa sociedade, este é o maior motivo em se trazer esta discussão, principalmente neste mês de março que é dedicado às mulheres.

Nossa sociedade nos conduz a “padrões sociais” e estes refletiram ao longo de nossa história sobre a sexualidade feminina, No Brasil ela tem sofrido grandes transformações até chegar nos dias atuais. Ao final do século XIX e início do século XX, as mulheres eram induzidas a não buscar o prazer sexual, sendo classificadas por assim dizer, como saudáveis. A única finalidade da mulher casada era a reprodução. A imagem feminina erotizada era tida como amante.

A submissão feminina, colocada pelos padrões da época instituía a tutela em primeiro plano ao pai e posteriormente ao marido, sendo a sexualidade balizada pelos padrões da igreja, fundamentada no casamento a concretizada pela função de reprodução. 

Desta forma, toda a história feminina era direcionada por padrões éticos, morais e comportamentais que colocavam a mulher como a zeladora do lar, cuidadora dos filhos e de seu lar, sendo que todos os seus desejos sexuais deveriam ser abafados e reprimidos para o bem da vida e sociedade matrimonial, abstendo das necessidades fisiológicas de seu corpo e mente.

Ao avançarmos no tempo, as mulheres tem conseguido conquistar espaço na sociedade, com este “empoderamento” abriram-se oportunidades e conhecimentos, porém a mulher ainda sofre problemas em sua sexualidade, pois uma construção sexual foi “impressa” na mulher de que deveria satisfazer ao seu marido e/ou namorado, mesmo que muitas vezes não tenha vontade, fazendo com que, para fugir desta “obrigação”, inventem “desculpas” para não se relacionar sexualmente com o parceiro.

Outro ponto a se observar está relacionado ao conhecimento do próprio corpo, que por essa influência determinada pelos “padrões sociais”, fazia com que a mulher o desconhecesse, desta forma impedindo que ela atingisse a plenitude sexual. O conhecimento do próprio corpo era tido como algo errado, feio e não era fomentado desde a infância. Esta plenitude sexual, o orgasmo, é um indicador do conhecimento corporal alinhado com pensamento, sentimentos e ações que traz o equilíbrio à saúde física e mental.

Como o conhecimento do corpo e do assoalho pélvico influencia na sexualidade e na vida da mulher?

O assoalho pélvico é uma estrutura complexa formada por vários músculos, estriados e liso, ligamentos e fáscias que formam dois diafragmas: o pélvico e o urogenital ou períneo. A função primordial dessa estrutura é sustentar e suspender os órgãos abdominais e pélvicos, desta forma estão relacionados diretamente com a continência urinária e fecal, além de participarem na função sexual.

As mulheres em idade gestacional e em geral em decorrência da idade sofrem diretamente com as alterações na região.

As mulheres em período gestacional devido a alterações hormonais têm a força e o tônus muscular alterados, desta forma é comum surgirem problemas de incontinência urinária. Outro problema relatado é o surgimento de disfunções sexuais, pois com a alteração do tônus da musculatura podem surgir efeitos negativos na saúde sexual e por consequência problemas nas relações interpessoais, além de problemas psicossociais. 

O enfraquecimento muscular e a perda de tônus afetam apenas mulheres?

Temos que entender que, como toda musculatura, ela sofre desgastes com o avançar da idade, por alguns tipos de doenças e, no caso das mulheres, com a gravidez principalmente. Sim, os homens também são afetados por essa perda de tônus e força muscular, pois a musculatura além de estar relacionada com o orgasmo vaginal, também participa na ereção masculina.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, a incontinência urinária atinge cerca de 35% das mulheres com mais de 40 anos, após a menopausa e em 40% das gestantes. Num plano geral, cerca de 5% da população entre homens e mulheres sofrem com este mal. Estudos independentes, como o realizados pela Astellas Farma Brasil apontaram que 50% dos homens e 70% das mulheres apresentaram eventos de incontinência e em casos mais graves, o descolamento dos órgãos da região.

Algumas doenças como a obesidade, hipertensão, diabetes e quadros de tosses constante podem piorar ainda mais estes quadros.

Outras intervenções que podem afetar a saúde dessa região são: cirurgias ginecológicas e retirada da próstata. Atividades físicas como crossfit, exercícios anaeróbicos (como levantamento de pesos), corridas e outros tipos de esporte de alta performance aumentam a pressão abdominal, desta forma também podem causar problemas nessa região, caso ela não esteja preparada. 

Mas como a fisioterapia pode ajudar nas disfunções do assoalho pélvico?

Como vimos, a saúde do assoalho pélvico, o conhecimento dessa região principalmente para as mulheres pode ajudar não somente na saúde física, mas evitar muito problemas de ordem psicológica e social.

A fisioterapia intervém tanto na recuperação de problemas já instalados, como na prevenção através de técnicas, exercícios direcionados e no trabalho de conscientização corporal e mental.

A musculatura trabalhada circunda ânus, vagina e pênis, desta forma, ter uma consciência corporal é essencial para se ter sucesso no tratamento. Não é mexer bumbum, coxa e barriga que você atingirá o objetivo e a realização dos exercícios pode ser feita no banho, no trabalho, em qualquer ambiente, pois uma vez que tenha o conhecimento da área.

Esse exercício mais básico consiste em contrair e relaxar, fazendo com que o assoalho suba e vá para dentro. Contraindo, sustentando por cinco a dez segundos e relaxando. E não se preocupe, é imperceptível a olhos alheios.

Uma técnica utilizada que também trabalha a região do assoalho com grande eficácia é o “Pilates”, pois a combinação do trabalho da contração muscular da região, da parede abdominal e diafragma respiratório proporciona uma percepção maior da região pélvica e um aumento da força e tônus muscular.

 Outros exercícios utilizados são os “exercícios de Kegel”, indicados para, além de tratar de incontinência fecal e urinária, para tratamento das disfunções sexuais femininas e masculinas, como ejaculação precoce, problemas de ereção e na dor e falta de prazer. 

É importante esclarecer que, a mulher tem maior tendência a desenvolver problemas nesta região tendo em vista que, além da conformação anatômica diferenciada do homem, a gravidez traz diversas alterações anatômicas, hormonais que tornam o assoalho pélvico mais flexível e adaptável ao parto.

Quando o problema está instalado, os exercícios somente podem não resolver, sendo necessário o fisioterapeuta lançar mão de técnicas mais invasivas como o biofeedback, cone vaginal e ginástica compressiva para reeducação e estimulação mais localizada da região pélvica. 

Como podemos fortalecer o assoalho pélvico? O que é Kegel? 

Como citado acima, “Exercícios de Kegel” é um grupo de exercícios direcionados a trabalhar a região do assoalho pélvico que tem por finalidade aumentar o tônus e a força muscular. 

Os exercícios devem ser realizados pelo menos 3 vezes ao dia, em séries de 10 repetições, mantendo a contração por 5 a 10 segundos e após relaxando.

É muito importante que o músculo pubococcígeo seja identificado. Para tanto, esvazie a bexiga, antes de realizar os exercícios e durante a evacuação interrompa a urina e perceba a ação deste músculo (é ele que interrompe a passagem da urina) para a realização. Volte a fazer a contração após ter urinado para ter certeza qual músculo é e trabalhar ele de forma isolada (não contrair outra musculatura). O ato de segurar a urina deve ser feito somente esta vez para você conhecer o músculo. Não se deve segurar a urina pois poderá desenvolver uma infecção urinária, ok?

Vamos a alguns exercícios:

  1. Em um colchonete, deite-se. Abra as pernas até a largura dos ombros, relaxe as nádegas e o abdômen, agora contraia a musculatura do assoalho pélvico. O músculo pubococcígeo, lembra? A mulher – faça como se quisesse sugar algo com a vagina, para cima e para dentro. O homem – contraia os glúteos. Faça 10 repetições.
  2. Deite-se, com a barriga volta para cima e os joelhos dobrados. Contraia os músculos da pelve, como no exercício anterior, segure e eleve o corpo, mantendo os pés e braços no chão. Sustente por 5 a 10 segundos e após volte devagar e relaxe o corpo no chão. Faça 10 repetições.
  3. Apoie os joelhos e as palmas das mãos no chão (fique em quatro apoios) inspire e eleve os arcos das costas e contraia os músculos da pelve, segure por 5 a 10 segundos e após relaxe, mas não solte o abdômen completamente. Faça 10 repetições.
  4. Sentada de pernas cruzadas, contraia os músculos do assoalho pélvico, sustente de 5 a 10 segundo e solte lentamente. Faça 10 repetições.
  5. Sentada, estique as pernas. Contraia a musculatura pélvica de 5 a 10 segundos, enquanto sustenta a contração rotacione os pés, devagar. Faça 10 repetições.
  6. Agora em pé, apoie-se em uma cadeira ou móvel firme. Equilibre o corpo e faça a contração dos músculos pélvicos sustente e eleve os calcanhares, de 5 a 10 segundos e volte a posição inicial. Faça 10 repetições.

É muito importante que esses exercícios sejam acompanhados por um profissional (fisioterapeuta) e ao sentir algum desconforto o comunique imediatamente. Realizar esses exercícios todos os dias, por 30 dias, você sentira a diferença e após 90 dias, a diferença será gritante. Porém alguns casos podem necessitar de mais tempo e intervenções mais específicas por parte do fisioterapeuta para que se alcance os objetivos desejados.

O bem-estar sexual, mental e físico só é atingido no equilíbrio dos três. Conheça seu corpo! Não tenha vergonha e converse com os profissionais de saúde. 

A fisioterapia está aí para ajudar a compreender seu corpo e guia-lo para o melhor entendimento e prevenção dos transtornos físicos, mentais e psicossociais que as disfunções do assoalho pélvico pode causar. Consulte seu fisioterapeuta!

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