segunda-feira, maio 20, 2024
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Da repressão ao excesso: o sexo no Século XXI

Por Wladimir Oliveira

Os semblantes sexuais colocados à oferta fast food estão aí mais para ocultar a “não-relação sexual”(o desencontro) do que para o resultado da evolução da liberdade sexual sobre os corpos, reivindicada no limiar do século passado. A era da pornografia virtual possibilita uma satisfação sexual do nível imaginário com incidência sobre o corpo, mas que nunca será um sexo entre dois sujeitos. Transa-se com uma imagem, seja ela distribuída para milhares ou em uma troca virtual entre duas pessoas. Os efeitos desta era, de acordo com o psicanalista Jacques Miller são devastadores e “cujas consequências nos costumes das novas gerações, quanto ao estilo das relações sexuais, já estamos acompanhando: desencantamento, brutalização, banalização”.
A publicidade, as letras de músicas populares como sertanejo e funk, nos levam a pensar que estamos out, perdendo algo ao se relacionar sexualmente com uma só pessoa, ou investindo em outros prazeres como hobbies, esportes, ficando sozinho, ou com amigos. “ A vida é curta, curta um caso” diz o slogan de uma rede social voltado para pessoas comprometidas que estão dispostas a encontros sexuais. Nesta rede social cuja procura é necessariamente sexo sem compromisso, foi realizada uma pesquisa com dois perfis falsos, um masculino e um feminino, com fotos e dados físicos semelhantes, e revela a ansiedade mais para o lado masculino; a mulher recebeu 83 mensagens e 245 formas de contato, o masculino recebeu 1 mensagem e 5 formas de contato, ambos em 24 horas.
Este formato de satisfação da pulsão escópica (do olhar) e do automatismo do gozo genital, tira do sujeito do desejo de ser desejado, é sempre solitário, não há uma resposta do outro. “O sexo frágil, no que concerne ao pornô, é o masculino, que cede a isso de muito bom grado. Quantas vezes não ouvimos em análise homens que se queixam das compulsões de acompanhar as peripécias pornográficas e até mesmo de estocá-las em uma reserva eletrônica! Do outro lado, o das esposas e das amantes, pratica-se menos do que o conhecimento que se tem da prática de seu parceiro. Então, depende: considera-se uma traição ou um divertimento sem consequências. Essa clínica da pornografia é do século XXI só a evoco, mas ela mereceria ser detalhada por ser insistente e porque há aproximadamente quinze anos tornou-se extremamente presente nas análises.” (Miller, O inconsciente e o corpo falante)
A presença de imagens do nu ocorreu em vários períodos da humanidade, o Barroco no renascimento foi bastante marcado pela nudez e sensualidade. Por conta da repressão sexual da igreja na época, os artistas reproduziam nas cenas da mitologia e religião grande quantidade de corpos nus, cujas cenas evocam o gozo, mas não expõem o ato sexual.
No livro “Man (Dis) connected” (”Homem (des) conectado”), o professor da Universidade de Standford Philip Zimbardo, mostra os resultados de uma pesquisa realizada com 20 mil jovens e aponta os riscos de novos hábitos criados pela tecnologia. A disponibilidade de pornografia gratuita na internet, possibilitou este novo vício em gerações de homens jovens com problemas no desenvolvimento social e nas conquistas acadêmicas, além, naturalmente, das dificuldades no relacionamento sexual e afetivo com as garotas, e disfunção erétil.
A forma como os homens e mulheres se encontram com a sexualidade é, e sempre foi diferente, dadas as diferenças anatômicas e culturais com que se definem os papéis de cada sexo. É um ponto enigmático com incidência em todo o funcionamento psíquico do sujeito. Estruturalmente a mulher precisa do amor para gozar, o homem tem o gozo genital. O que está em pauta tanto na psicanálise quanto na psicologia são as consequências da oferta do sexo explícito no século XXI, que vai muito além daquela simples frustração do homem que espera um sexo acrobático, e uma mulher que espera o telefonema do dia seguinte. Podemos acompanhar uma série de fatos com consequências traumáticas e irreversíveis oriundas das três consequências : desencantamento, brutalização, banalização. A incidência de estupros de garotas alcoolizadas, ou dopadas sem consentimento, a iniciação sexual precoce, vazamento de vídeos e fotos íntimos na internet, difamação, grupos de disseminação intencional de HIV.
As mulheres, por sua vez, ao defender a igualdade sexual, caem muitas vezes na imitação do comportamento masculino, contabilizando parceiros, banalizando o sexo e se devastando com a ausência de afeto. O sexo sempre teve algo de transgressor, mas o excesso e a banalização levam a uma insatisfação, que impulsiona novas formas de transgressão sexual. E estas novas formas de transgredir não evoluem no sentido de um bom encontro com o outro sexo, ao contrário, o que está cada vez mais aparente é o receio, o trauma, o revide, o contragolpe, a insegurança, a falta de cumplicidade e o abuso.

Wladimir Silva de Oliveira
@psiwladimir
Psicanalista / Teólogo / Sexólogo / Terapeuta de Família / Neuropsicopedagogo / Aromaterapeuta

Fontes:
http://www.wapol.org/pt/articulos/Template.asp?intTipoPagina=4&intPublicacion=13&intEdicion=9&intIdiomaPublicacion=9&intArticulo=2742&intIdiomaArticulo=9
http://oglobo.globo.com/sociedade/tecnologia/vicios-em-videogame-pornografia-on-line-estao-gerando-crise-de-masculinidade-diz-psicologo-16113562

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