Por Wladimir Oliveira*
Quando o assunto é relação sexual, muitas mulheres reclamam que a penetração peniana é dolorosa e difícil. Essa dor durante ou na tentativa de coito, é chamada de dispareunia, sendo o distúrbio sexual que mais possui causa orgânica (aquela relacionada com a saúde dos órgãos), afetando 60% das mulheres com queixa sexual.
Embora seja possível manter o desejo, a excitação e a capacidade de ter orgasmo, a mulher pode ser acometida em uma ou em todas as fases de resposta sexual, o que consequentemente faz com que ela se desinteresse ou até mesmo evite a intimidade sexual, distanciando-se do parceiro. Por outro lado, muitas mulheres que sofrem de dispareunia mantêm relações com seu parceiro por diferentes motivos (medo de perda ou infidelidade masculina etc). Independente da situação, é preciso lembrar que, quando não tratada, essa disfunção pode evoluir para transtornos de excitabilidade e para a perda total de desejo sexual.
Diagnóstico
Na avaliação ginecológica, o fator inicial para um bom diagnóstico é a informação do local e do tipo de dor, para que se possa comparar com as patologias mais comuns nessas situações. Durante a investigação, deve-se clarear a situação a partir das seguintes perguntas: desde quando acontece? Com quem acontece? Em que situação acontece? Como acontece? Sempre foi assim? Possui fases de melhora ou piora? Como está sendo a evolução do problema?
O exame ginecológico é de fundamental importância, lembrando-se que essa avaliação inicia-se na observação da vulva. Dessa forma, o médico preocupa-se imediatamente com a introdução do espéculo ou com o toque vaginal. Outro fator interessante é a associação da informação da paciente com relação à localização da dor durante o ato sexual, para que se possa comparar com o toque vaginal na hora da consulta.
Os exames complementares serão pedidos de acordo com a patologia que se deseja diagnosticar. São comuns exames à fresco diante de corrimentos vaginais; urina rotina e urocultura na suspeita de infecções urinárias e hemogramas para infecções pélvicas. Outro exame complementar, no caso de dispareunias profundas (queixa de dor ao coito no fundo da vagina), a laparoscopia. Já a ultrassonografia (USG endovaginal) vem trazendo cada dia mais subsídios significativos no esclarecimento da etiologia da dor coital profunda. Por tratar-se de um exame de diagnóstico não invasivo, ela tem a preferência inicial.
Como a dispareunia orgânica é muito comum, principalmente em mulheres de idade avançada, só podemos falar em dispareunia psicogênica após exame clínico (ginecológico e abdominal), sendo que algumas vezes é preciso pedir exames complementares (USG abdominal, USG endovaginal, RNM, laparoscopia etc).
O que pode causar a dispareunia?
As causas da dispareunia são habitualmente divididas conforme o local aonde a dor ocorre, podendo ser superficial ou profunda. A dispareunia superficial (ou de entrada) é caracterizada pela dor no intróito vaginal. Por outro lado a dispareunia profunda é quando a dor ocorre no fundo da vaginal, sendo muito comum a endometriose.
Tipos de dispareunia conforme a sua localização.
As principais causas de dispareunia superficial incluem:
Falta de lubrificação
Trauma, machucados e irritação da pele
Vaginismo
Anomalias congênitas
Por outro lado as causas de dispareunia profunda comumente podem ser:
Doença inflamatória pélvica
Endometriose
Cistite
Cistos de ovário
Prolapso uterino
Síndrome do Intestino Irritável
Cirurgias prévias (como cesárea, histerectomía ou outras cirurgias pélvicas)
Fatores emocionais também podem estar relacionadas com a dor na relação sexual. Estresse, depressão, ansiedade e um histórico de abuso sexual são comumente relacionados com a queixa de dor durante o sexo.
O que fazer para acabar com a dor durante a relação sexual?
O tratamento da dispareunia é voltado para a sua causa. Por isso uma consulta ginecológica é importante. Caso a causa seja a secura vaginal pode-se usar lubrificante ou em alguns casos a utilização de hormônios podem ajudar a resolver o problema. Por outro lado as infecções vaginais devem ser tratadas adequadamente de forma a eliminar o germe que causa a infecção.
Em alguns casos é difícil de identificar uma causa orgânica e então os fatores psicológicos devem ser considerados. Nestes casos o tratamento envolve a educação sexual, apoio emocional e, às vezes, medicamentos.
*Wladimir Oliveira
Psicanalista, Teólogo, Terapeuta Familiar, Sexólogo e Neuropsicopedagogo
Referencias: (1)KAPLAN, H. S. Evaluation of Sexual Disorders: Psychological and Medical Aspects. New York: Brunner/Maze, 1983. (2) JODOIN, M. et al. Male Partners of Women with Provoked Vestibulodynia: Attributions for Pain and Their Implications for Dyadic Adjustment, Sexual Satisfaction, and Psychological Distress, v. 5, n. 12, p. 2862-2870, 2009. (3) KATHERINE S, S.; CAROLINE F, P.; SUSAN, C. Pain, Psychosocial, Sexual, and Psychophysical Characteristics of Women with Primary vs. Secondary Provoked Vestibulodynia. Journal of Sexual Medicine, v. 6, n. 1, p. 205-214, 2009.
Excelente material. É uma grande oportunidade de esclarecimentos sobre o problema relatado na apresentação do tema. Muitas mulheres sofrem com esse problema e por receios e até medo, tendem a esconder a sintomatologia. Parabéns.
Muito esclarecedor a matéria. Parabéns.
Realmente, diversas mulheres sofrem com esse tipo de situação, e, por medo e/ou timidez ( muitas vezes até descuido) acaba deixando o problema de lado.