Por Téo Gelson
Nara Leão ajudou a criar a bossa nova e o que chamamos de MPB, cantou o samba dos morros do Rio de Janeiro, participou da tropicália e da jovem guarda. Consagrada ainda muito jovem, ajudou a lançar Chico Buarque e Maria Bethânia — isso é dito por eles. Foi uma das únicas artistas, junto com Caetano Veloso, a se opor à discussão sem sentido da presença da guitarra elétrica na música brasileira.
Sem se prender a estilos, grupos e paradigmas, trafegou por todos os movimentos, sem preconceito, aberta a novidades. Namorou músicos com quem cantou, e pessoas do teatro, e do cinema, e quem mais ela quis. Recebeu o apelido, e o odiava, de musa da bossa nova. A música brasileira, das décadas de 1950 a 1980, seria mais pobre sem Nara.
Chico, Caetano, Bethânia, Nelson Motta, Marieta Severo, Paulinho da Viola. Todos ajudam a contar a trajetória de Nara, que começou em seu apartamento em Copacabana. Lá, na segunda metade dos anos 1950, quando era uma adolescente, ela recebia músicos como Carlos Lyra, o ex-namorado Ronaldo Bôscoli, o amigo da vida Roberto Menescal, até Tom Jobim e João Gilberto.
A cantora de temperamento forte e gestos suaves trafegou da ruptura do tropicalismo para a americanizada música, na visão dos críticos, da jovem guarda. Foi mais uma mudança de turma. Edu Lobo diz ter ficado revoltado quando Nara se juntou a Roberto e Erasmo Carlos (e namorou Jerry Adriani), para ficar em um exemplo do documentário. Mas não há mágoas. Todos parecem entender a alma livre da cantora.
Fonte: exame.com