quinta-feira, maio 9, 2024
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Uma explicação comportamental da sexualidade humana

Por Francisco Neves 

A espécie humana, como as demais espécies, é um produto da seleção natural. Cada um de seus membros é um organismo extremamente complexo, um sistema vivo (SKINNER, 2006), por isso, não temos apenas uma sexualidade, como temos a cor dos olhos que até então é algo imutável. Não temos uma sexualidade, como teríamos uma inteligência que pode ser quantificada e qualificada, em grau e fatores, mediante técnicas psicométricas. Isso significa dizer que, a sexualidade matiza, impregna todo nosso corpo, constituindo-se numa dimensão que define diferencialmente todo ser humano (MONTEOLIVA, 2002).

 Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2023) a sexualidade está relacionada a busca por satisfação plena e contínua, é “uma energia que nos motiva para encontrar amor, contato, ternura e intimidade; ela integra-se no modo como sentimos, movemos, tocamos e somos tocados, é ser-se sensual e ao mesmo tempo ser-se sexual. A sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e, por isso, influencia também a nossa saúde física e mental”.

Do ponto de vista analítico – comportamental não poderíamos definir o ser humano com uma dupla realidade: corpo e mente. O ser humano tem um corpo animal, mas não se reduz á corporeidade, muito menos é definido por ela. Todo ser humano é uma unidade complexa que está sob influência de variáveis ontogenéticas, sociogênicas e práticas culturais.

Nessa perspectiva, a sexualidade humana não é uma questão de pulsão, desejo, vontade, reflexo, não seria como muitos pensam: uma questão de pele ou de escolha e, também, não se define pela procriação e nem pela conjugalidade (MONTEOLIVA, 2002).

Inscrita geneticamente, a sexualidade, na sua expressão morfológica, assume diversas formas concretas de atuação relacional no decorrer da história pessoal de cada um. E continuará durante toda a nossa existência (MONTEOLIVA, 2002). A partir desta afirmação, podemos inferir que o caráter relacional constitui o sentido e o objetivo principal e definidor da sexualidade humana. 

Como todo comportamento, a sexualidade, é um objeto de estudo difícil, não porque é inacessível, mas porque é extremamente complexa. Uma vez que é um processo, e não uma coisa, não pode facilmente ser imobilizada para observação. É mutável, fluida, evanescente (SKINNER, 2007), é dinâmica, podendo sofrer mudanças durante a história de cada pessoa. Sofrerá grande ou quase nenhuma mudança ao longo da vida, o que dependerá dos contextos em que ela ocorrer. 

Sobre o caráter mutável, fluido, evanescente e dinâmico da sexualidade, vejamos o que Pedrosa (2006) exemplificou: uma mulher cis ou mulher trans, poderá externar sua sexualidade na forma de orientação heterossexual por determinado período da sua vida, depois passar um período externando sua homossexualidade para depois voltar para a heterossexualidade ou bissexualidade. “A expressão da sexualidade” demonstra a mobilidade da sexualidade nos indivíduos. No entanto, a mulher do exemplo, terá uma orientação sexual predominante. 

Antes de concluir, uma observação é imprescindível. Torna-se necessário diferenciar sexualidade de genitalidade. Há, de fato, uma relação de interdependência, mas não de identidade (convicção íntima sobre si). A sexualidade como já foi dito impregna toda a pessoa e todas suas atividades (MONTEOLIVA, 2002), é um conjunto de sensações físicas e eróticas. São sensações prazerosas oriundas de todos os órgãos do sentido e presentes em toda área física do corpo (PEDROSA, 2006).

A sexualidade se manifesta em todas as fases da vida, da primeira infância até o fim da vida (PEDROSA, 2006), enquanto a genilidade define pequena parte do corpo humano, e em determinado tipo de atividade; no sentido biológico é o sexo, ou seja, o conjunto de características genéticas, anatômicas e comportamentais que caracterizam um ser humano como do sexo feminino ou masculino; ela é a forma cuja função concreta é a produção do prazer e da procriação; expressão concreta da sexualidade, que não se treina, mas cujo sentido, para o ser humano, deverá ser descoberto, “conscientizado” e assumido mediante ao processo de aprendizagem (MONTEOLIVA, 2002).  

REFERENCIAS

MOTEOLIVA, Maria José. O dilema da sexualidade. 4ed. Edições Loyla, São Paulo, 2002. 

SKINNER, Burrhus Frederic. About behaviorism. New York, NY: 2006, Alfred A. Knopf.

_________. Ciência e Comportamento Humano. 11. Ed. 2ª tiragem. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

World Health Organization. Sexual health [Internet]. Genebra: WHO. Acesso em 04 out. 2023. Disponível em: http://www.who.int/topics/sexual_health/en/

Foucault M. História da sexualidade. Rio de Janeiro: Graal; 1985. v.2.

 

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