Eu só penso em coisas negativas e não sei o que fazer para me livrar desses pensamentos

Por Paulo Roberto Reis

Instagram: @psipaulorobertoreis

O bem-estar de uma pessoa depende, sobretudo da forma como ela enxerga e vive o seu contexto de mundo. Crenças negativas colaboram para a sistematização de padrões negativos, ocasionando as distorções de realidade. É um comprometimento na capacidade de julgar e interpretar os fatos. Eu posso imaginar o quanto esses pensamentos negativos te deixam desconfortáveis, pois, às vezes, eles são automáticos e involuntários. Falar sobre esses pensamentos negativos é um assunto de saúde mental, porque impactam na sua qualidade de vida. Bem que você gostaria de pensar apenas positivo, mas não consegue. Eu te entendo, e estou aqui para te ajudar.

A Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC), que é uma das abordagens psicológicas, trabalha com a ideia de que esses pensamentos ditos negativos podem ser distorções cognitivas. As distorções cognitivas, também chamadas de erros lógicos, são formas rígidas de processamento das informações, que não possuem respaldo em evidências concretas (Beck, 1967). Todo pensamento é desenvolvido pelo cérebro. Contudo, se o aparelho cerebral estiver viciado num único sistema dificilmente fará outras conexões de pensamentos. Pensamentos negativos recorrentes são padrões, que conduzem uma pessoa a interpretar o mundo de uma maneira muito negativa (Rupke, Blecke, & Renfrow, 2006).

Desse modo, os nossos pensamentos geram emoções e comportamentos. É uma tríade inseparável. Se uma pessoa tem um pensamento de morte, por exemplo, seus sentimentos e ações também serão de morte. Então, não subestime esses padrões cognitivos distorcidos, pois eles são mais nocivos do que se pode imaginar. A partir de distorções cognitivas, o indivíduo pode ficar disfuncional, além de desenvolver transtornos mentais. No exemplo anteriormente citado, a pessoa poderia ficar tão fixada com a ideia de morte que poderia deixar de se alimentar e dormir padecendo de estresse e ansiedade. Pensamentos negativos reforçam emoções e comportamentos negativos.

Para lidar com situações assim, algumas pessoas buscam desenvolver uma cultura demasiadamente positivista. Esse tipo de estratégia dificilmente vai ajudar a pessoa que está com uma distorção cognitiva. Não se trata apenas de pensar positivo. Forçar “positivismo” em determinadas realidades pode se tornar tóxico gerando quadros ainda maiores de sofrimento psíquico. A questão não é pensar positivo, mas cuidar do sistema cognitivo, para que ele seja reabilitado a produzir outras formas de elaboração do pensamento.

Mas, o que fazer para se livrar desses pensamentos negativos recorrentes? Parece ser fácil resolver o problema, mas é complexo. Trata-se de mudar padrões. Na psicoterapia, com abordagem em Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC) – do qual sou especialista – é possível, por meio de técnicas eficazes, rastrear e avaliar as distorções cognitivas, bem como tratá-las. Um dos métodos de tratamento consiste na reestruturação cognitiva, que é uma ferramenta capaz de contribuir para a construção de pensamentos mais funcionais e adaptativos. Tal feito pode ser realizado devido a plasticidade do cérebro, que admite novas conexões de padrões e crenças. Recordando que cada caso é um caso. Daí a importância de um acompanhamento psicológico individualizado.

Reflexão autoral de Paulo Roberto Santos Reis Soares, mestrando em Estudos de Linguagens (UNEB), graduado em Psicologia e Teologia (UCSAL), pós-graduado em Gerontologia e Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC), e pós-graduando em Neuropsicologia. Atua como psicólogo clínico, com foco na saúde mental da pessoa idosa prestando atendimento online e presencial; psicólogo das organizações e do trabalho e palestrante.

Referências

Beck, A. T. (1967). Depression: Clinical, experimental, and theoretical aspects. New York, NY: University of Pennsylvania Press.

Beck, A.T. (1979). Cognitive therapy and the emotional disorders. New York, NY: Meridian.

Primi, R. (2010). Avaliação psicológica no Brasil: Fundamentos, situação atual e direções para o futuro. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 26(n. spe), 25-35. http:// dx.doi.org/10.1590/S0102-37722010000500003

Rupke S. J., Blecke, D., & Renfrow, M. (2006). Cognitive therapy for depression. American Family Physician, 73(1), 83-86.

IMAGEM: Sayonara Macêdo, 2023.