domingo, maio 5, 2024
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Mestre Gil e sua história na música brasileira

Por Walter Silva

Benção, mestre Gil!

Podem me chamar de exagerado, ainda que eu me considere modesto por isso, quando afirmo que, na semana passada, o Brasil reencontrou-se com a cultura ao comemorar o nascimento de um dos seus maiores trabalhadores, Gilberto Passos Gil Moreira.

Celebrar um aniversário, mais do que celebrar a vida, é celebrar a existência. É o reencontro simbólico com algo considerado importante no plano individual ou coletivo, por isso não é à toa que damos tanta importância à comemoração de nascimentos, mortes e datas históricas. É uma forma muito especial de lembrar ao tempo cronos, o que mede, a relação que ele deveria estabelecer com uma outra compreensão grega de tempo, o tempo kairós, aquele necessário para que algo aconteça. Mas qual a melhor maneira de estabelecer tal relação? Produzindo, criando, transformando, significando o nosso “estar com o mundo”. Agora, mais uma vez eu lhes pergunto, é exagero associar o aniversário de Gil a um reencontro com a cultura brasileira? Evidentemente que não.

A obra de Gil qualificou o estar com o mundo de todos nós que, de alguma forma, nos conectamos ao simbolismo das suas canções e da sua musicalidade. Poucos trabalhadores da cultura que ocuparam/ocupam o espaço midiático de maior expressividade conseguiram, ao mesmo tempo em que divulgaram/divulgam a produção musical baiana, contribuir para que ela se sustentasse enquanto expressão popular. A musicalidade de Gilberto Gil conseguiu fazer isso porque ela é práxica, ela não isola a reflexão da ação. Dando nome aos bois, falo aqui do indispensável apoio dado por Gil ao afoxé Filhos de Gandhy, na década dos anos 1970, quando a entidade viu a sua existência fortemente ameaçada. Em outras palavras, exercendo o seu ofício de cantor e de compositor, Gil compôs e cantou o afoxé Filhos de Gandhy mundo afora, reposicionando a instituição e uma das nossas mais autênticas expressões culturais: o afoxé.

Saindo do campo estritamente simbólico, Gilberto Gil foi um dos poucos trabalhadores da cultura que tiveram a oportunidade e assumiram o compromisso de colaborar para o avanço do setor no nosso país. Por meio da democratização do acesso aos recursos públicos, os trabalhadores da cultura viram, por meio dos Pontos de Cultura e das políticas de cultura implementadas na época em que Gil foi ministro, oportunidades bem mais dignas de desenvolverem os seus trabalhos e de reverberarem as manifestações culturais locais, falo isso de forma ampla, mas sem esquecer que, por todo o país, muitas gestões locais desastrosas contribuíram para o esvaziamento dos Pontos e da Rede de Cultura.

Como a música cria conexões fantásticas, ainda mais quando associadas à internet, acho difícil que alguém que esteja lendo esta coluna não tenha visto o vídeo em que diversos cantores e cantoras homenagearam Gilberto Gil interpretando “Andar com fé”, uma canção gravada no álbum “Um banda um” (1982), cujo refrão considero um verdadeiro mantra afro-baiano: “Andar com fé eu vou, porque a fé não costuma falhar”. Que homenagem bacana… que emoção deve ter sentido Gil ao perceber a alegria e o carinho dos amigos entoando aquela canção. Pois que venha 79, 80 e por aí vai, pois, depois que você chamou os orixás para verem os Filhos de Gandhy, com certeza eles não perdem um aniversário seu.

Referências:

FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade.18rd. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

https:// youtube/DK06zbkZ18w

8 COMENTÁRIOS

  1. Texto preciso e necessário. Me faltam palavras para descrever Gilberto Gil, então, pego uma cola com Prof. Walter Silva, Gil é um orixá! Gil pertence a uma lembrança da minha infância, ratificou que minha cidade, Campina Grande, era mesmo grande, com ares de NY! Salve, Gilberto Gil!!!

  2. Perfeito!! Amei a estilística do texto! Marco histórico, teórico e conceitual entrelaçados a uma cultura que só um filho da Bahia, poderia retratar nesse artigo! Mas, afinal de contas “ baiano não nasce, estreia”

  3. Com certeza. Cresci vendo e ouvindo, Gil,Caetano, Pepeu Gomes, Baby e outros produzindo cultura no eterno Zanzibar(ponto de encontro de adoradores da arte) situado para a minha felicidade, no bairro a onde moro: Garcia.ENTRE OS BARRACOS DA CIDADE DIFUNDIDO A PAZ, ANDAR COM FÉ EU VOU!

  4. Excelente !! Mandou muito bem !! Bela estreia !! Vou compartilhar com a equipe Gil no Twitter !! 🤜🏾🤛🏾👏🏿👏🏿👏🏿👏🏿👏🏿

  5. Falou e disse! Esse gigante da música internacional que ultrapassou as fronteiras Brasileira, pela sua grandeza. Muito bem representado pelas palavras desse maravilhoso colunista Zé.
    Obrigado 🙏

  6. Até arrepiei quando li. Parabéns guerreiro pela escrita e muito obrigado por nos presentear com esse conhecimento sonoro. Viva Gil e viva toda a Bahia.

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