Por Paulo Roberto Reis
Instagram: @psipaulorobertoreis
A família é uma das temáticas mais estudadas da atualidade. Para alguns estudiosos, a família é vista como o lugar do reconhecimento das diferenças, da construção da identidade e das primeiras trocas afetivas. Trata-se de um sistema humano complexo em constante transformação. Podemos falar no plural – famílias – e em constructos diversos. Assim, cada época revela novas nuances e desafios para as relações familiares. Diante desse contexto, temos as diversas funções dentro da rede familiar. Os avós são aqueles que estão inseridos em relações de cuidado. A atribuição de papéis era encarada como natural, mas, hoje em dia, nem tanto. Vamos nos deter, nesta reflexão, apenas em alguns vieses, cujo objetivo é trazer uma breve reflexão sobre a relação entre avós e netos.
Em meio as dinâmicas da contemporaneidade, os pais têm estado cada vez mais ausentes no cotidiano dos seus filhos. Diante de tal realidade, os avós são tidos como uma rede de apoio fundamental, dispensando carinho e afeto para os netos, o que os torna, admirados e imprescindíveis na teia dos cuidados familiares. Eles oferecem suporte afetivo, moral, pedagógico e financeiro tanto para os filhos quanto para os netos. Para o desenvolvimento infanto-juvenil, a relação entre avós e netos traz alguns pontos positivos, como, por exemplo, a construção de memórias afetivas com a família.
Aqueles momentos de histórias, brincadeiras, comidas e dengos são eventos singulares para os netos. Essa relação entre gerações deixa registrada algumas experiências que se se arrastam ao longo da vida. No dia-a-dia, as pessoas mais velhas se preocupam em passar os seus ensinamentos e tradições para os seus descendentes, sobretudo para os seus netos. São acontecimentos marcantes em suas vidas, e que dão origem a determinadas crenças. Essas crenças, muitas vezes, são carregadas de afeto, proteção e amparo.
Esse contato proximal entre avós e netos corrobora para o desenvolvimento humano. Isso ocorre mediante atividades e funções que dão origem a certos traços de personalidade dos netos, mas, também, pela construção afetiva dos mais velhos. Há uma troca de vivências e percepções de mundo que trazem benefícios para ambos os lados. A intergeracionalidade – a relação entre distintas gerações – é um fator importante para a condução de processos biopsicossociais. Daí derivam a formação da identidade do indivíduo, bem como as suas estratégias de sobrevivência e bem-estar.
Há uma quebra de paradigmas e ressignificações dos eventos da vida quando as gerações diferentes estão trocando ideias, crenças, valores, sentimentos e memórias. Contudo, existem diversas modalidades de relação entre avós e netos. Não podemos cair na ingenuidade de acharmos que todas as relações são iguais. Cada caso traz as suas particularidades. Têm avós que cuidam dos seus netos para os pais trabalharem ou alguma outra atividade específica. No entanto, temos realidades em que os netos são literalmente, em tempo integral, educados pelos avós. Nessas construções, não existem apenas benefícios. Não podemos romantizar alguns casos. Há avós sobrecarregados que ficam com excesso de demandas. Quem nunca ouviu falar daquele vovô e vovó que desempenham, também, as funções de pai e mãe? Pois é, na verdade, estão sobrecarregados. Existe uma sobreposição de funções, que nem sempre desencadeia vivências saudáveis. Dependendo de como essa relação é constituída pode trazer alguns conflitos nas relações familiares.
Outrossim, esse vínculo – entre avós e netos – contribui para o desenvolvimento afetivo, mas, também para o fortalecimento dos laços familiares. Essas relações podem ser desenvolvidas a partir da capacidade de um aprender com o outro. Enquanto os mais velhos, com sabedoria e maturidade, podem transmitir autodeterminação e resiliência; os mais novos podem ensiná-los a ter mais flexibilidade de ideias e formação de novas crenças. Nessa troca, todos os envolvidos podem ser enriquecidos com habilidades sociais. Os avós e pais podem dividir responsabilidades, mas cada um dentro da sua função. Dessa maneira, o cuidado com os netos torna-se mais saudável e benéfico.
Reflexão autoral de Paulo Roberto Santos Reis Soares, mestrando em Estudos de Linguagens (UNEB), graduado em Psicologia e Teologia (UCSAL), pós-graduado em Gerontologia e Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC), e pós-graduando em Neuropsicologia. Atua como psicólogo clínico, com foco na saúde mental da pessoa idosa prestando atendimento online e presencial; psicólogo das organizações e do trabalho e palestrante.
Referências
Bronfenbrenner, U. A ecologia do desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
Bronfenbrenner, U. Bioecologia do desenvolvimento humano: Tornando os seres humanos mais humanos (A. Carvalho Barreto, Trad.). Porto Alegre: Artmed, 2011.
Deus, Meiridiane Domingues de; Dias, Ana Cristina Garcia. Avós Cuidadores e Suas Funções: Uma Revisão Integrativa da Literatura. Pensando Famílias, 20(2), dez. 2016, (56-69). Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/penf/v20n2/v20n2a05.pdf Acesso em 25 de julho de 2024.
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