Por Paulo Roberto Reis
Instagram: @psipaulorobertoreis
Vivemos num mundo altamente digital. A internet tornou-se essencial para a convivência e relações socais. As redes cibernéticas introduziram novas formas de aquisição de informação, pensamento, comunicação social, lazer, política e, principalmente, novos meios comerciais e econômicos. Ao mesmo passo que aumenta o uso das ferramentas tecnológicas, tem-se, também, o avanço da longevidade. As pessoas idosas não estão – e nem podem – ficar de fora dessa realidade. Estamos em tempos de celulares, selfs, aplicativos, redes sociais, plataformas e uma infinidades de ferramentas digitais. A nossa reflexão aqui é sobre como a era digital pode impactar na saúde mental de pessoas idosas.
Com o advento das inovações tecnológicas e dos dispositivos digitais, ocorreram modificações na forma de realizar as atividades que fazem parte do cotidiano de pessoas idosos. Existem inúmeras atividades mediadas pelas ferramentas digitais, como: uso de aplicativos para gerenciar as finanças; reuniões de trabalho na modalidade virtual; consultas e agendamentos de serviços em saúde, até mesmo psicoterapia online e etc. Esse movimento exige das pessoas, em especial das idosas, determinadas habilidades para usufruir dos benefícios desse novo tempo.
Sair do analógico para o digital está sendo um processo muito veloz. Quando você pensa que domina uma ferramenta, há uma mudança abrupta que lhe desafia a aprender outros domínios. Para quem estava, por exemplo, acostumado a resolver tudo na agência bancária, no supermercado e na farmácia ter que se adaptar às novas tecnologias digitais é uma tarefa complexa. Ao falarmos em longevidade e saúde mental não podemos desconsiderar a inclusão na realidade do mundo digital. Não existe saúde mental sem inclusão digital, e nem existe longevidade sem usufruir das novas tecnologias.
As contribuições da inserção digital na vida de pessoas idosas são múltiplas, a saber: socialização, aquisição de conhecimentos, maior contato com amigos e familiares, teleconsultas e assistência em saúde, praticidade nas atividades do dia-a-dia, estimulação cognitiva, sentimentos de pertencimento e utilidade e outras. As novas tecnologias podem contribuir cada vez mais para aproximar as pessoas idosas da sociedade. De acordo com uma nova pesquisa do IBGE (2024), as pessoas idosas estão mais conectadas às novas tecnologias. Esse fenômeno é um avanço significativo que corrobora para uma longevidade com mais qualidade de vida e bem-estar de pessoas idosas. Estar conectado é uma estratégia de sobrevivência.
Entretanto, como tudo na vida, há também as suas desvantagens. Não podemos cair na romantização. A vida atrás das telas oferece riscos à saúde. O uso excessivo da tela pode causar problemas de saúde física, como, cansaço visual e dores de cabeça. Também pode causar danos à saúde mental, como, ansiedade, depressão, estresse, insônia, dependência e perturbações comportamentais. Além do mais, existem outras ameaças. Muitas pessoas idosas têm sido vítimas de abusos financeiros, como, golpes e fraldes; além disso, existe uma super estimulação nas redes. São muitas informações sendo ventiladas em tempo recorde – inclusive notícias falsas.
Faz-se necessário cuidados específicos com esse segmento. A internet não pode ser vista como “terra sem lei”, como alguns insistem em conceituá-la. A responsabilidade deve ser de todos. Os espaços digitais devem ser observados na sua inteireza. Assim, novas estratégias precisam ser criadas através de legislações, políticas públicas e sociais, além de uma maior responsabilidade por parte do setor privado. Precisamos, com urgência, de uma educação ética voltada para o cuidado de pessoas idosas nas redes cibernéticas.
Além disso, alguns comportamentos podem ser melhor observados por todas as pessoas, sobretudo pelos idosas, a saber: tenha atenção ao fornecer dados pessoais, use senhas fortes nos aplicativos [sobretudo de Banco], atualize sempre os seus dispositivos mudando as senhas, desconfie de ofertas que apresentam discrepância com a realidade [adote critérios de checagem], evite clicar em links desconhecidos, use redes wi-fi seguras, faça uma verificação cuidadosa nas informações através de veículos confiáveis, não compartilhe – nem dê like – em conteúdos que incitam o ódio ou propiciem a desinformação, estabeleça horários de uso de tela e evite abusos quanto à exposição. Se tiver com alguma dificuldade de lidar com os desafios mencionados, busque a ajuda de pessoas da sua confiança. No mais, cuide da sua saúde mental!
Reflexão autoral de Paulo Roberto Santos Reis Soares, mestrando em Estudos de Linguagens (UNEB), graduado em Psicologia e Teologia (UCSAL), pós-graduado em Gerontologia e Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC), e pós-graduando em Neuropsicologia. Atua como psicólogo clínico, com foco na saúde mental da pessoa idosa prestando atendimento online e presencial; psicólogo das organizações e do trabalho e palestrante.
Referências
Cobalchini CCB, Alves BF, Silva LL, Lima TB. Idoso e tecnologia: aprendizagem e socialização como fatores protetivos para um envelhecimento saudável. In: Grillo RM, Navarro ER. Psicologia: desafios, perspectivas e possibilidades. São Paulo: Editora Científica Digital, 2020. pp. 162-167.
Alvarenga GMO, Yassuda MS, Cachioni M. Inclusão digital com tablets entre idosos: metodologia e impacto cognitivo. Psicologia, Saúde & Doenças. 2019; 20 (2): 384-401. Disponível em: https://doi. org/10.15309/19psd200209.
Imagem: Idosos alegres se divertindo enquanto tiram selfie. Autoria desconhecida. Disponível em: https://www.istockphoto.com/br/foto/idoso-alegre-se-divertindo-enquanto-tira-selfie-na-comunidade-de-aposentados-gm1413583709-462603115
