Por Dr. Paulo Roberto Reis
Psicólogo clínico
Muitas vezes, ao receber um diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA), é comum ouvir frases como: “Ele tem autismo leve” ou “Só um pouquinho de autismo”. Mas como psicólogo, posso afirmar que essas expressões são enganosas. O autismo não é “leve” ou “pesado”, e sim uma condição neurológica que afeta cada indivíduo de maneira única, exigindo diferentes níveis de suporte.
O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento caracterizado por desafios na comunicação, na interação social e por padrões de comportamento repetitivos e restritos. Diferente de outras condições de saúde, o autismo não segue um padrão único. Algumas pessoas podem ter dificuldades mais sutis, enquanto outras necessitam de suporte intensivo em diversas áreas da vida. Os sinais do TEA costumam aparecer nos primeiros anos de vida. Como profissional da área, já atendi crianças que apresentavam dificuldades na linguagem, evitavam contato visual ou demonstravam grande interesse em um tema específico. Outros pacientes demonstram hipersensibilidade a sons, cheiros ou texturas, além de padrões de comportamento repetitivos. Cada caso é único, mas um fator comum é a necessidade de compreensão e acolhimento.
A classificação do TEA se baseia no nível de suporte necessário. O Nível 1 indica que a pessoa exige suporte, mas consegue ter alguma independência no dia a dia. No Nível 2, é necessário um suporte substancial para lidar com desafios sociais e comportamentais. Já o Nível 3 exige um suporte muito substancial, pois a pessoa apresenta sérias dificuldades na comunicação e na adaptação à rotina. Essa classificação reforça que não existe “autismo leve”, e sim diferentes graus de necessidade de suporte.
O tratamento do TEA é multidisciplinar e pode envolver terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, neuropsicólogos e psicólogos. Como especialista na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), observo que essa abordagem é essencial para ajudar a criança a desenvolver habilidades sociais, lidar com emoções e criar estratégias para diminuir comportamentos disfuncionais. Na clínica, acompanho crianças que aprendem a compreender pistas sociais e a regular emoções, melhorando significativamente sua qualidade de vida. A TCC também auxilia os pais a desenvolverem estratégias para apoiar seus filhos com mais segurança e empatia.
O autismo não é uma doença, nem algo a ser “curado”, mas uma forma diferente de experiência humana. Rotular um autista como “leve” pode minimizar suas dificuldades e reduzir o suporte necessário. O essencial é garantir que cada pessoa com TEA receba o acolhimento e os recursos adequados para viver plenamente. Se você conhece alguém com TEA ou suspeita de sinais, busque avaliação profissional. O conhecimento e a compreensão são os primeiros passos para um mundo mais inclusivo.
Paulo Roberto Reis é psicólogo clínico especializado em Terapia Cognitivo-Comportamental e idealizador da Longevos Psicologia, uma clínica voltada para o cuidado da saúde mental e longevidade. Graduado em Psicologia pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL), Paulo é também mestrando em Estudo de Linguagens pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Com uma sólida formação acadêmica, é pós-graduado em Gerontologia, Terapia Cognitivo-Comportamental e Neuropsicologia. Além de sua prática clínica, Paulo é colunista do Portal Som de Papo, onde escreve sobre saúde mental aos domingos, contribuindo com informações e reflexões sobre o bem-estar psicológico.
Referências
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.
SILVA, D. F.; RIBEIRO, M. N. Transtorno do Espectro Autista: Diagnóstico, Tratamento e Inclusão. São Paulo: Editora Vozes, 2020.
IMAGEM: META IA



