Por Dr. Paulo Roberto Reis
Psicólogo Clínico
Nos últimos tempos, a Coluna Saúde, do Portal Som de Papo, tem se dedicado a compartilhar reflexões importantes sobre saúde mental, com conteúdos que tocam a vida cotidiana de quem nos acompanha. Este texto é mais uma contribuição nesse caminho. Sou Paulo Roberto Reis, psicólogo, e convido você a refletir comigo sobre um tema que tem afetado milhares de brasileiros: o cuidado com a saúde mental no ambiente de trabalho. Afinal, é ali que passamos boa parte do nosso dia – e como esse espaço está moldando nosso bem-estar emocional?
A saúde mental no ambiente de trabalho tornou-se uma preocupação crescente nos últimos anos. Em 2024, o Brasil registrou mais de 472 mil afastamentos por transtornos mentais, representando um aumento de 68% em relação ao ano anterior (JORNAL OPÇÃO, 2025). Transtornos de ansiedade e episódios depressivos lideram as causas desses afastamentos, com 141.414 e 113.604 casos, respectivamente (CONTÁBEIS, 2025). Esses dados expressam mais do que números: são evidências de que os espaços laborais, muitas vezes, têm adoecido quem neles trabalha.
Ambientes de trabalho tóxicos, caracterizados por assédio, sobrecarga, metas inalcançáveis e ausência de reconhecimento, são fatores decisivos no adoecimento mental de profissionais. A Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), atualizada em 2024, passou a exigir das empresas a identificação e gestão de riscos psicossociais, como estresse e assédio moral, integrando essas ações ao sistema de segurança e saúde do trabalho (BRASIL, 2024). A regulamentação aponta para uma nova lógica de cuidado que deve ser coletiva e institucional.
A pandemia de COVID-19 intensificou os desafios da saúde mental no trabalho. O isolamento social, a insegurança financeira e a sobrecarga emocional, especialmente entre mulheres e cuidadores, contribuíram para o aumento expressivo de transtornos como ansiedade e depressão (JORNAL OPÇÃO, 2025). A hiperconectividade e as demandas incessantes, mesmo no modelo remoto, prolongam o estresse e afetam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Diante desse cenário, o cuidado com a saúde mental no trabalho demanda tanto ações individuais quanto institucionais. Estabelecer limites entre os papéis da vida pessoal e profissional, praticar atividades físicas, alimentar-se bem e buscar ajuda quando necessário são atitudes fundamentais. Do lado das empresas, fomentar uma cultura de bem-estar, com escuta ativa, horários saudáveis e políticas de prevenção, é um caminho seguro para a preservação da saúde mental (BRASIL61, 2025).
A psicoterapia se destaca como uma ferramenta essencial nesse processo. Ela oferece um espaço de escuta qualificada e sigilosa, favorecendo o autoconhecimento, a ressignificação de experiências e o fortalecimento da saúde emocional. Incentivar o acesso à psicoterapia – por meio de parcerias, convênios ou programas internos – é mais do que um benefício: é um investimento no capital humano e na sustentabilidade da organização (BRASIL61, 2025).
Em síntese, promover a saúde mental no trabalho não é apenas um gesto ético, mas uma estratégia inteligente. Quando empresas e trabalhadores compartilham a responsabilidade de criar ambientes saudáveis, todos saem ganhando. Investir no bem-estar mental é investir em produtividade, qualidade de vida e relações humanas mais saudáveis. E isso, definitivamente, precisa estar no centro das nossas prioridades.
Paulo Roberto Reis é psicólogo clínico especializado em Terapia Cognitivo-Comportamental e idealizador da Longevos Psicologia, uma clínica voltada para o cuidado da saúde mental e longevidade. Graduado em Psicologia pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL), Paulo é também mestrando em Estudo de Linguagens pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Com uma sólida formação acadêmica, é pós-graduado em Gerontologia, Terapia Cognitivo-Comportamental e Neuropsicologia. Além de sua prática clínica, Paulo é colunista do Portal Som de Papo, onde escreve sobre saúde mental aos domingos, contribuindo com informações e reflexões sobre o bem-estar psicológico.
Referências
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Norma Regulamentadora nº 1 – Disposições Gerais e Gerenciamento de Riscos Ocupacionais. Brasília: MTE, 2024. Disponível em: https://brasil61.com/n/afastamento-do-trabalho-por-transtornos-mentais-ultrapassaram-400-mil-em-2024-bras2513458. Acesso em: 30 abr. 2025.
BRASIL61. Afastamentos por transtornos mentais ultrapassam 400 mil em 2024. 2025. Disponível em: https://brasil61.com/n/afastamento-do-trabalho-por-transtornos-mentais-ultrapassaram-400-mil-em-2024-bras2513458. Acesso em: 30 abr. 2025.
CONTÁBEIS. Afastamentos por saúde mental cresceram 68% em 2024. 2025. Disponível em: https://www.contabeis.com.br/noticias/69787/afastamentos-por-saude-mental-cresceram-68-em-2024. Acesso em: 30 abr. 2025.
JORNAL OPÇÃO. Brasil enfrenta crise de saúde mental com mais de 472 mil afastamentos em 2024. 2025. Disponível em: https://www.jornalopcao.com.br/ultimas-noticias/brasil-enfrenta-crise-de-saude-mental-com-mais-de-472-mil-afastamentos-em-2024-687203. Acesso em: 30 abr. 2025.
Imagem: META IA. A imagem mostra trabalhadores em uma fábrica. Todos com expressões cansadas e concentradas em seu trabalho. A cena transmite uma sensação de rotina e esforço diário.



