Por Dr. Paulo Roberto Reis
Psicólogo Clínico
No Brasil, a figura materna ocupa um lugar simbólico e emocional profundamente enraizado em nossa cultura. A mãe é vista como pilar da família, guardiã dos afetos, sustentáculo emocional dos filhos e muitas vezes da própria casa. Desde cedo, somos ensinados a admirar sua força, sua capacidade de doação, sua resistência ao cansaço — e essa imagem, muitas vezes idealizada, nos faz esquecer que por trás da “supermulher” existe alguém real: uma pessoa com limites, dores, desejos e necessidades.
Neste Dia das Mães, mais do que homenagear essa figura com flores, presentes ou palavras bonitas, é essencial voltarmos nosso olhar para a saúde mental materna — um tema urgente, mas ainda pouco discutido. Afinal, como anda o coração da mulher que cuida de tantos outros corações?
A verdade é que, mesmo diante de avanços nos debates sobre saúde mental e direitos das mulheres, a maternidade ainda é cercada por mitos e cobranças. Espera-se que a mãe esteja sempre disponível, emocionalmente equilibrada, produtiva no trabalho, presente na vida dos filhos, e — de forma quase invisível — mantenha a estrutura da casa funcionando. A soma dessas exigências, muitas vezes silenciosas e normalizadas, resulta em uma sobrecarga física e psíquica que pode adoecer. Não é incomum que mães relatem sentimentos de culpa por não darem conta de tudo, ansiedade constante, exaustão emocional, perda de identidade e até episódios depressivos. Algumas vivem tudo isso em silêncio, com medo de serem julgadas por “reclamarem demais” ou por parecerem “fracas”.
A psicoterapia surge, nesse contexto, como um espaço essencial de escuta, acolhimento e reorganização interna. É ali, na confidencialidade e no não-julgamento, que a mãe pode deixar de ser apenas “mãe” e voltar a ser também “mulher”, “pessoa”, “sujeito”. Pode reconhecer suas dores, validar suas emoções, reencontrar suas potências e, sobretudo, construir uma forma mais saudável de estar no mundo — consigo mesma e com os outros. A terapia não é sobre tornar-se perfeita, mas sobre tornar-se consciente. E essa consciência é o primeiro passo para quebrar o ciclo da sobrecarga silenciosa que tantas mulheres carregam.
Cuidar da saúde mental da mãe não é um luxo, é uma necessidade que reverbera em toda a família. Quando a mãe está emocionalmente bem, ela não apenas tem mais recursos para lidar com os desafios do dia a dia, como também se torna um modelo de autocuidado para os filhos. Crianças aprendem, principalmente, pelo exemplo — e ver a mãe cuidar de si mesma, colocar limites, respeitar seu tempo e falar sobre sentimentos é uma lição de vida que nenhuma escola ensina.
Além disso, é importante lembrar que saúde mental materna não se limita ao pós-parto ou à infância dos filhos. Mães de adolescentes, de jovens adultos e até mães cuidadoras de filhos com deficiência ou em sofrimento psíquico também enfrentam grandes desafios emocionais. Em todos os ciclos da maternidade, o cuidado psicológico é válido e necessário.
Neste Dia das Mães, que tal ampliarmos o nosso conceito de homenagem? Mais do que presentear com objetos, que possamos oferecer escuta, empatia, apoio e incentivo para que cada mulher que materne encontre tempo, espaço e suporte para cuidar da própria saúde emocional. Que ela saiba que não está sozinha, que não precisa dar conta de tudo, que pedir ajuda é um sinal de força — não de fraqueza — e que a psicoterapia pode ser uma grande aliada nessa jornada de tantas transformações. Porque quando a mãe se escuta, toda a família respira melhor. E a saúde mental dela importa. Sempre.
Paulo Roberto Reis é psicólogo clínico especializado em Terapia Cognitivo-Comportamental e idealizador da Longevos Psicologia, uma clínica voltada para o cuidado da saúde mental e longevidade. Graduado em Psicologia pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL), Paulo é também mestrando em Estudo de Linguagens pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Com uma sólida formação acadêmica, é pós-graduado em Gerontologia, Terapia Cognitivo-Comportamental e Neuropsicologia. Além de sua prática clínica, Paulo é colunista do Portal Som de Papo, onde escreve sobre saúde mental aos domingos, contribuindo com informações e reflexões sobre o bem-estar psicológico.
Imagem: Psicólogo Paulo Roberto Reis com a sua mãe Maria Luísa Reis. Fotografia. Créditos: Karoline Melo/Retratista @seujeitounico



