Por Dr. Paulo Roberto Reis
Psicólogo Clínico
Ser mãe atípica é viver uma maternidade intensa, marcada por amor, mas também por exaustão, sobrecarga e solidão. Cuidar de uma criança com autismo, TDAH, síndromes genéticas ou deficiências múltiplas exige presença constante, força emocional e uma rede de apoio que nem sempre existe. Por isso, este texto traz à Coluna Saúde a urgência de se falar sobre a saúde mental dessas mães, que cuidam de todos, mas muitas vezes esquecem de si mesmas.
Ser mãe de uma criança com autismo, TDAH, síndromes genéticas ou deficiências múltiplas é viver uma rotina cheia de amor, mas também de exaustão, luta constante e solidão silenciosa. Muitas dessas mães enfrentam uma jornada sem pausas. São elas que acompanham consultas, agendam terapias, estudam sobre o diagnóstico, lutam por direitos e, ao mesmo tempo, tentam manter o lar funcionando. Às vezes, fazem tudo isso sozinhas, sem uma rede de apoio sólida. Elas são vistas como fortes, incansáveis, “escolhidas por Deus” — mas raramente são vistas como mulheres que também adoecem emocionalmente.
Em meu trabalho como psicólogo clínico, venho acompanhando de perto mães atípicas que carregam no corpo o peso da sobrecarga e, na alma, o silêncio da culpa. Muitas delas se culpam por sentir cansaço, por desejar um tempo só para si, por não conseguirem dar conta de tudo o tempo todo. Na tentativa de serem tudo para os filhos, acabam esquecendo de ser alguém para si mesmas. Vivem em alerta constante, muitas vezes sem espaço para respirar, chorar ou simplesmente existir fora da função materna.
Muito do que aprendi sobre a maternidade atípica foi com a psicóloga Milena Macêdo [instagram @psi.milenamacedo], que além de profissional dedicada, é também mãe atípica. Seu trabalho com outras mães e com pessoas neurotípicas me ensinou a olhar com mais profundidade e respeito para essa experiência. Milena me ajudou a desenvolver uma escuta ainda mais sensível diante da dor, da exaustão e da solidão que tantas mães enfrentam em silêncio — especialmente quando falta suporte do estado e da sociedade. Através dela, compreendi que acolher essas mulheres não é apenas uma prática clínica, mas também um gesto de humanidade.
A saúde mental dessas mulheres precisa ser cuidada com a mesma dedicação que é oferecida aos filhos. A psicoterapia, nesse contexto, torna-se um espaço seguro onde elas podem tirar a capa de super-heroína e simplesmente ser humanas. É nesse ambiente que a dor encontra nome, o medo é acolhido, e a culpa começa a ser ressignificada. A psicoterapia as ajuda a se reconectarem com sua própria história, a fortalecerem sua autoestima, a criarem estratégias para lidar com o estresse cotidiano e, sobretudo, a compreenderem que cuidar de si também é uma forma de cuidado com o outro. Não é egoísmo — é sobrevivência emocional.
A maternidade atípica é feita de pequenos milagres diários, mas também de lágrimas no silêncio da madrugada. E ninguém deveria atravessar isso sozinha. Cuidar da saúde mental dessas mulheres é garantir que o amor delas siga sendo fonte de vida — sem que para isso elas precisem se apagar. Se você é uma mãe atípica, saiba: você não está sozinha. Seu sofrimento é real e legítimo. E há cuidado disponível para você também. Psicoterapia é mais do que falar sobre o que sente — é um caminho de reconstrução, de amparo e de resgate da sua própria essência.
Paulo Roberto Reis é psicólogo clínico especializado em Terapia Cognitivo-Comportamental e idealizador da Longevos Psicologia, uma clínica voltada para o cuidado da saúde mental e longevidade. Graduado em Psicologia pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL), Paulo é também mestrando em Estudo de Linguagens pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Com uma sólida formação acadêmica, é pós-graduado em Gerontologia, Terapia Cognitivo-Comportamental e Neuropsicologia. Além de sua prática clínica, Paulo é colunista do Portal Som de Papo, onde escreve sobre saúde mental aos domingos, contribuindo com informações e reflexões sobre o bem-estar psicológico.
Imagem: META IA. GOOGLE.




Parabéns! Psicólogo competente e comprometido com o seu trabalho , pensando no bem estar do ser humano e a saúde mental
Parabéns por esse trabalho, q nos ajudar a refletir e aprender a lidar c situações tão complexas, e que está presente em nossa vida, as vezes diretamente ou indiretamente, mas é um processo contínuo, e também nos fortalece saber que tudo isso tem pessoas dedicadas , para nos ajudar a caminhar de mãos dadas.