Por Carla Perin
@cacaperin
Um convite à dignidade, força e verdade no vínculo humano–animal
Na medicina veterinária sistêmica, compreendemos que a adoção não é apenas um ato de acolhimento; é um encontro entre destinos. Cada animal traz consigo uma história que antecede sua chegada à nova família — uma linhagem ancestral marcada por força, instinto e sabedoria. Eles existiam muito antes de nós, e carregam em seu corpo e comportamento uma memória profunda do equilíbrio natural da vida.
No entanto, muitas vezes o tutor, ao adotar, enxerga apenas a dor do passado do animal. Olha para ele com pena. Quando olhamos com pena, deixamos de ver aquilo que realmente sustenta aquele ser: sua força.
Segundo Bert Hellinger, a pena retira dignidade. Ela não nasce da compaixão, mas da nossa própria ferida. É uma projeção de vitimização que coloca o outro em um lugar inferior — frágil e dependente — um lugar que não condiz com a verdade da alma animal. A compaixão adulta, por outro lado, enxerga a força presente mesmo nos momentos difíceis. Ela ajuda sem se sobrepor, apoia sem dominar, honra sem invadir.
Todos os seres vivos merecem cuidado quando necessário, mas isso não significa assumir tudo para si, nem infantilizar o animal. No reino animal, não existe o “coitadinho”. Existe adaptabilidade, dignidade e potência. E com os animais domésticos não é diferente.
Quando adotamos um animal apenas porque sentimos pena, corremos o risco de ocupar um lugar que não nos pertence: o de salvadores. E, ao fazer isso, transformamos o vínculo em algo desequilibrado. Já quando reconhecemos sua ancestralidade, seu lugar e sua força, criamos um encontro verdadeiro — aquele em que cada um permanece inteiro.
A pergunta que proponho para esta semana é simples, mas profunda:
Você consegue ver a força do seu animal mesmo em desafios? Ou ainda se relaciona com ele pela lente da dó e da fragilidade?
A adoção sob o olhar sistêmico nos convida a ocupar um espaço de respeito e maturidade: o tutor que apoia, cuida e oferece estrutura — mas não apaga a força do animal, não substitui sua história e não tenta salvá-lo para preencher seus próprios vazios.
Quando a adoção acontece com consciência sistêmica, nasce um vínculo que honra a vida. Um vínculo em que o animal é visto como ele é: um ser pleno de força, instinto e pertencimento.
Carla Perin
Médica Veterinária Sistêmica • Terapeuta Multiespécie
@cacaperin
Contato: (14) 99776-6120


