Por Thiago Alves Eduardo – Psicólogo
@thiagoalvespsic
Vivemos tempos em que tudo parece correr depressa demais. A tecnologia nos aproxima de quem está longe, mas, paradoxalmente, nos afasta de quem está perto. Os dias são preenchidos por compromissos, metas, notificações e uma sensação quase constante de que “falta tempo”. Nessa corrida invisível, o simples aquilo que é leve, natural, essencial muitas vezes passa despercebido. E é justamente nele que mora uma das maiores fontes de equilíbrio emocional e bem-estar que podemos cultivar.
O poder do simples
Ser simples não é ser pequeno. É ter a coragem de reduzir o excesso, de abrir espaço. O simples nos convida a desacelerar, a olhar de novo para o que sempre esteve ali: o cheiro do café fresco, a luz que entra pela janela, uma conversa sem pressa, o riso espontâneo. Pequenos gestos que não custam nada, mas que nos devolvem o sentido da presença.
Na psicologia, muito se fala sobre a atenção plena o ato de estar presente, realmente presente, no momento que acontece. Essa prática, que nasce do mindfulness e de filosofias antigas, é, na essência, um retorno ao simples. Estar consciente do agora é uma forma de dizer à mente: “não há outro lugar em que eu precise estar senão aqui”. E esse “aqui” é onde a vida de fato acontece.
O simples como antídoto do excesso
O excesso é um velho conhecido da modernidade. Excesso de informação, de estímulos, de tarefas, de consumo, de expectativas. E cada excesso nos afasta um pouco mais de nós mesmos. O simples, por outro lado, é o gesto que nos reconecta. É quando colocamos o celular de lado para ouvir alguém com atenção. É quando respiramos fundo antes de responder. É quando percebemos que a felicidade não está na próxima conquista, mas no instante que vivemos agora.
Muitos sofrimentos contemporâneos, ansiedade, estresse, sensação de vazio nascem do desencontro com o presente. Queremos o futuro, lamentamos o passado, e esquecemos que o simples ato de existir já é um acontecimento extraordinário. Reaprender a valorizar o básico é também um exercício de saúde mental. É um convite para restaurar o equilíbrio entre o fazer e o ser.
O simples é o que permanece
Se observarmos com atenção, veremos que o que verdadeiramente nos marca não são os grandes feitos, mas as pequenas memórias: um abraço, uma palavra gentil, uma tarde tranquila. O simples nos toca porque fala a língua da essência humana aquela que entende o valor do afeto, da quietude e da autenticidade.
Psicologicamente, esses momentos têm um poder restaurador. Eles nos ancoram, nos lembram de quem somos, e nos ajudam a criar vínculos reais. Não à toa, muitas terapias e abordagens psicológicas enfatizam o retorno às pequenas experiências: o contato com a natureza, o cuidado com o corpo, o silêncio, o descanso, o simples cura porque reconecta.
Simplicidade não é ausência, é presença
Ser simples não é viver sem ambição, sem desejo ou sem planos. É viver com clareza. É escolher o que realmente importa e deixar que o resto se acomode no espaço que sobrar. A simplicidade nasce quando percebemos que a vida não precisa ser perfeita para ser plena basta ser verdadeira.
Resgatar o simples é, portanto, um ato de resistência num mundo que valoriza o excesso. É dizer “não” à pressa e “sim” à pausa. É reconhecer que nem tudo precisa ser grandioso para ter valor. Há beleza em regar uma planta, em preparar uma refeição com calma, em ouvir o próprio coração sem ruído.
Um convite final
A psicologia nos ensina que o bem-estar não se constrói apenas com grandes mudanças, mas com pequenas escolhas diárias. Escolher o simples é escolher viver com mais leveza, mais presença, mais sentido.
Talvez a vida seja justamente isso: um constante aprendizado sobre o que realmente importa e, quase sempre, o que importa é simples.
Bibliografia
Kabat-Zinn, J. (2017). Aonde quer que você vá, é você: Mindfulness e a arte de estar presente em cada momento. Rio de Janeiro: Sextante



