Por Dr. Paulo Roberto Reis
Psicólogo Clínico
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento que acompanha a pessoa ao longo de toda a vida. Ainda assim, a maior parte dos discursos, políticas públicas e práticas clínicas permanece centrada na infância. Como psicólogo clínico, tenho acompanhado de perto a dor e a solidão vividas por adolescentes e adultos autistas que se sentem esquecidos ou inadequadamente compreendidos justamente nas fases em que o mundo parece cobrar mais desempenho, autonomia e adaptação.
Na infância, os sinais do TEA são mais visíveis: dificuldades na comunicação social, interesses restritos, comportamentos repetitivos e sensibilidades sensoriais. Com o suporte necessário, a criança autista pode aprender formas de se expressar, de se conectar com os outros e de manejar as situações do cotidiano. Mas ao chegar na adolescência, um novo ciclo de desafios se inicia: mudanças no corpo, nas relações sociais, na busca por pertencimento e na construção da identidade. Para adolescentes no espectro, essas transições são especialmente exigentes e, muitas vezes, vividas com grande sofrimento emocional.
Na adultez, os desafios continuam – e podem se intensificar. Muitos adultos autistas enfrentam dificuldades para se inserir no mercado de trabalho, lidar com relações afetivas, gerenciar a rotina ou sustentar a autonomia esperada socialmente. E não raro, esse sofrimento é invisibilizado, especialmente quando o diagnóstico chega tardiamente. O adulto que não teve um olhar clínico cuidadoso na infância pode passar anos lutando contra a ansiedade, a baixa autoestima e o sentimento constante de inadequação, sem compreender o porquê.
É por isso que defendo – e pratico em minha clínica – a importância de um acompanhamento psicológico contínuo e respeitoso, que valorize a singularidade de cada pessoa no espectro. Na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), por exemplo, trabalhamos com estratégias personalizadas para o manejo das emoções, a construção da autoestima, o aprimoramento das habilidades sociais e o enfrentamento dos desafios diários. Além disso, contar com suporte terapêutico ao longo da vida promove qualidade de vida, favorece a autonomia e contribui para a prevenção de crises emocionais.
O cuidado também pode ser ampliado com o apoio de Terapia Ocupacional, grupos de habilidades sociais e orientações educacionais ou profissionais, sempre levando em consideração o contexto, os interesses e o momento de vida de cada indivíduo. O TEA não tem cura, mas isso não é uma limitação: é uma característica que exige compreensão, inclusão e respeito. A verdadeira inclusão acontece quando reconhecemos a diversidade neurológica como parte da experiência humana e criamos espaços acessíveis, empáticos e seguros para todos.
E é justamente com esse objetivo – de ampliar o diálogo e promover a conscientização – que convido você para um momento muito especial: na próxima segunda-feira, dia 14, às 20h, estarei ao vivo no Instagram @psipaulorobertoreis com a psicóloga Milena Macedo, conversando sobre O Autismo na Adolescência e na Vida Adulta. Será uma oportunidade para refletirmos juntos sobre os desafios e possibilidades do cuidado em cada fase da vida, com informações acessíveis e uma escuta acolhedora. Se você convive com alguém no espectro ou deseja aprender mais, sua presença será muito bem-vinda.
Paulo Roberto Reis é psicólogo clínico especializado em Terapia Cognitivo-Comportamental e idealizador da Longevos Psicologia, uma clínica voltada para o cuidado da saúde mental e longevidade. Graduado em Psicologia pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL), Paulo é também mestrando em Estudo de Linguagens pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Com uma sólida formação acadêmica, é pós-graduado em Gerontologia, Terapia Cognitivo-Comportamental e Neuropsicologia. Além de sua prática clínica, Paulo é colunista do Portal Som de Papo, onde escreve sobre saúde mental aos domingos, contribuindo com informações e reflexões sobre o bem-estar psicológico.
Referências
BOSA, Cleonice Alves. Autismo: intervenções psicoeducacionais. Porto Alegre: Artmed, 2002.
MENDES, Enicéia Gonçalves (org.). Autismo e educação: estratégias pedagógicas e práticas escolares. Campinas: Autores Associados, 2006.
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