Por Dr. Paulo Roberto Reis
Psicólogo Clínico
Na minha prática como psicólogo, tenho escutado muitas histórias que revelam algo sutil, mas muito presente na vida de pessoas idosas: a dependência emocional em relação à família. Não se trata apenas de precisar de ajuda física, financeira ou médica, mas de um tipo de laço invisível que mantém o idoso preso a expectativas, silêncios e afetos que muitas vezes são carregados de culpa, medo e solidão. É como se, ao envelhecer, a autonomia emocional fosse lentamente sendo retirada e substituída por uma sensação de “estar a mais” no mundo.
O cuidado, que deveria ser expressão de afeto e dignidade, pode se transformar em vigilância, infantilização ou controle. Já ouvi senhores e senhoras dizendo que não podem sair sozinhos, que não têm permissão para escolher o que comem ou até com quem convivem. Isso tudo, muitas vezes, parte de familiares bem-intencionados, mas despreparados para lidar com o envelhecimento de quem antes era referência. Há um desequilíbrio relacional, em que o idoso é visto como alguém “incapacitado para sentir” ou decidir, o que mina profundamente sua autoestima.
A solidão, nesse contexto, não é só física, mas emocional. É possível estar cercado de filhos e netos e, ainda assim, sentir-se profundamente só. A dependência emocional nasce, às vezes, da ausência de outros vínculos, de amizades que se perderam no tempo, de projetos de vida interrompidos. O idoso que vive apenas em função da família pode se sentir sem lugar no mundo quando não é mais “necessário”, criando um ciclo doloroso de abandono e busca por aprovação constante. A liberdade, nesse cenário, parece sempre distante demais.
A psicoterapia tem sido uma aliada poderosa nesses casos. É no espaço terapêutico que muitos idosos reencontram sua própria voz, seus desejos, sua história — e mais importante: sua capacidade de decidir. Carl Rogers, um dos grandes nomes da psicologia humanista, dizia que o ser humano tem dentro de si uma tendência natural à autorrealização. Mesmo na velhice, essa força interna continua viva, esperando ser ouvida e respeitada. A escuta terapêutica não infantiliza nem corrige: ela acolhe, fortalece e devolve ao idoso o direito de existir com autenticidade.
É possível, sim, envelhecer com liberdade emocional, mas para isso é preciso romper com os mitos do cuidado total e do amor que sufoca. Famílias precisam compreender que cuidar também é soltar, e que a autonomia emocional não é sinônimo de abandono, mas de respeito. E os próprios idosos merecem saber que não é tarde para recomeçar. A psicoterapia é esse caminho possível, onde se pode reaprender a se amar, a se priorizar e, sobretudo, a viver com dignidade os próprios afetos — livres, leves e verdadeiros.
Paulo Roberto Reis é psicólogo clínico especializado em Terapia Cognitivo-Comportamental e idealizador da Longevos Psicologia, uma clínica voltada para o cuidado da saúde mental e longevidade. Graduado em Psicologia pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL), Paulo é também mestrando em Estudo de Linguagens pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Com uma sólida formação acadêmica, é pós-graduado em Gerontologia, Terapia Cognitivo-Comportamental e Neuropsicologia. Além de sua prática clínica, Paulo é colunista do Portal Som de Papo, onde escreve sobre saúde mental aos domingos, contribuindo com informações e reflexões sobre o bem-estar psicológico.
Imagem: Pessoa idosa e pessoa jovem ambas com expressões de preocupação e tristeza. Laço vermelho para expressar a dependência emocional. Imagem produzida pela IA.




Boa Noite! O envelhecimento é um assunto bem polêmico, muitas pessoas não consegue lidar ou não aceita o envelhecimento e acabam entrando em depressão .