Por Dr. Paulo Roberto Reis
Psicólogo Clínico
O envelhecimento é um processo natural da vida, mas nem sempre é vivido de maneira leve e tranquila. À medida que os anos avançam, a pessoa idosa pode enfrentar desafios como a aposentadoria, a perda de entes queridos, mudanças no funcionamento do próprio corpo e até transformações em suas relações sociais. Esses fatores podem gerar angústia, ansiedade e tristeza, tornando fundamental a atenção à saúde mental nessa fase da vida. No entanto, muitas vezes, o sofrimento psíquico é negligenciado, seja porque é confundido com características do envelhecimento, seja porque há um estigma em relação à busca por ajuda psicológica.
Na minha experiência como psicólogo e especialista em Gerontologia, atendo muitas pessoas idosas que chegam ao consultório trazendo queixas como tristeza persistente, crises de ansiedade, sensação de vazio e uma profunda dificuldade de lidar com as mudanças impostas pelo tempo. Muitas relatam sentir-se esquecidas ou desvalorizadas pela sociedade e até mesmo pela própria família. Outras, após um diagnóstico de uma doença neurológica, como o Alzheimer ou outras demências, enfrentam um sofrimento psíquico significativo, que pode ser agravado pelo medo da perda da autonomia e da identidade. Esses desafios, quando não trabalhados adequadamente, podem comprometer não apenas a saúde mental, mas também a qualidade de vida e o bem-estar geral da pessoa idosa.
Um dos sinais mais comuns de que algo não está bem é o isolamento social. Muitas pessoas idosas, ao se sentirem solitárias ou sem propósito, acabam se afastando do convívio familiar e social, o que pode agravar sintomas depressivos. Além disso, vejo com frequência pacientes que apresentam queixas físicas recorrentes, como dores generalizadas e fadiga intensa, sem que haja uma causa médica aparente. O sofrimento emocional, muitas vezes, se expressa no corpo, tornando ainda mais desafiadora a identificação de um problema psicológico.
O luto é outro fator que impacta profundamente a saúde mental dos idosos. Perder um cônjuge, um amigo próximo ou até mesmo a capacidade de realizar atividades antes simples pode gerar um sentimento de desamparo e tristeza profunda. Quando esse luto se torna prolongado e impede a pessoa de seguir com suas atividades cotidianas, a ajuda psicológica se torna essencial. A terapia, nesses casos, ajuda a ressignificar a dor da perda e a encontrar novos caminhos para seguir em frente.
O acompanhamento psicológico contribui para que a pessoa idosa lide melhor com essas mudanças e desenvolva estratégias de enfrentamento mais saudáveis. Meu trabalho como psicólogo e gerontólogo tem me mostrado que, quando há espaço para acolhimento e escuta qualificada, muitos idosos conseguem encontrar novas motivações, resgatar sua autoestima e fortalecer seus laços sociais. O objetivo não é apenas tratar transtornos como depressão e ansiedade, mas também promover um envelhecimento mais ativo, saudável e com maior qualidade de vida.
A família e os cuidadores desempenham um papel fundamental na percepção dos sinais de sofrimento psíquico e na busca por ajuda. Demonstrar acolhimento, incentivar conversas sobre emoções e quebrar o tabu da terapia são atitudes que podem transformar a qualidade de vida da pessoa idosa. Envelhecer com saúde vai muito além dos cuidados físicos; a saúde mental também deve ser prioridade. Reconhecer que o idoso pode precisar de suporte psicológico é um ato de cuidado, respeito e valorização da sua trajetória de vida.
Paulo Roberto Reis é psicólogo clínico especializado em Terapia Cognitivo-Comportamental e idealizador da Longevos Psicologia, uma clínica voltada para o cuidado da saúde mental e longevidade. Graduado em Psicologia pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL), Paulo é também mestrando em Estudo de Linguagens pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Com uma sólida formação acadêmica, é pós-graduado em Gerontologia, Terapia Cognitivo-Comportamental e Neuropsicologia. Além de sua prática clínica, Paulo é colunista do Portal Som de Papo, onde escreve sobre saúde mental aos domingos, contribuindo com informações e reflexões sobre o bem-estar psicológico.
Referências
BECKER, F. Psicologia do Envelhecimento: Reflexões e Práticas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2019.
FREITAS, E. V. et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016.
NERI, A. L. (Org.). Qualidade de Vida na Velhice: Enfoque Multidisciplinar. Campinas: Alínea, 2007.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Relatório Mundial sobre Envelhecimento e Saúde. Genebra: OMS, 2015.
IMAGEM: Psicólogo Paulo Roberto Reis e Sandra. Retratista, Karolina Melo, 2024.



