Por Paulo Roberto Reis
Instagram: @psipaulorobertoreis
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2014), o fenômeno do ato suicida possui efeitos também nas pessoas próximas. As reações emocionais acerca do suicídio são complexas. Os chamados “sobreviventes suicidas” – termo que se refere a um indivíduo que sofre pela perda de alguém que cometeu suicídio – podem experimentar sentimentos, como, culpa, tristeza, angústia, impotência, ansiedade, vergonha ou até mesmo medo. Um dos maiores desafios para aqueles que sobrevivem é o tabu em torno do tema. Daí a importância dessa nossa reflexão, cujo objetivo é despertar a todos nós sobre o luto das pessoas que perdem um ente querido por suicídio.
O conceito de “sobreviventes suicidas” refere-se a morte violenta e que pode provocar culpa nas pessoas que mantinham uma relação próxima ou significativa com aquele que cometeu o ato suicida, demandando muito recurso psíquico para a elaboração do luto. Os sobreviventes precisam aprender a lidar com a perda e, ao mesmo tempo, com os estigmas em relação a esse tipo de autoextermínio. Umas das questões mais persistentes é: “por que se matou?”. Esse é um questionamento que dificilmente será respondido, mas que faz sentido para quem sobrevive.
Os questionamentos são carregados de crenças a respeito do ato suicida. Para algumas pessoas, o ato suicida é “falta de Deus”, “fraqueza”, “escolha” e etc. Essas representações sociais acabam gerando nos sobreviventes sentimentos relacionados à culpa. Para o sobrevivente, há uma necessidade de compreender as razões que fizeram aquela pessoa tirar a sua própria vida, além de buscar dar sentido ao ato ou até mesmo justificá-lo. A primeira coisa, é não se culpar nem culpar ninguém. O comportamento suicida é complexo e multicausal. Não existe uma explicação única, óbvia nem simplista.
Alguns estudos demonstram que logo após a morte, o sobrevivente tem dificuldade para estabelecer novas relações e facilmente se isola. A falta de acolhimento é uma das problemáticas enfrentadas, já que existe o tabu associado ao ato suicida. Como falar sobre o assunto se não há espaço para a escuta e compreensão do sofrimento psíquico? Nesse sentido, o sobrevivente utiliza a retração social como estratégia de defesa, pois, geralmente, pensa que as pessoas ao redor ficarão julgando aquele que se suicidou. Esse tipo de estratégia aumenta ainda mais o risco para o sobrevivente, podendo ocasionar Transtornos de Depressão, Ansiedade e outros.
Se você é um “sobrevivente suicida”, não se isole. Mantenha contato com as boas memórias em relação à pessoa perdida, mas, também, com as pessoas que te fazem bem. Aproveite as lembranças positivas para enfrentar as emoções negativas. Perceba que todas as emoções têm uma função. Logo, reflita sobre qual é o papel desses sentimentos intensos na sua vida nesse momento de dor. Evite tomar grandes decisões após o acontecimento suicida. Viva o seu processo de enlutamento sem pressa. Talvez seja útil fazer atividades que fazem sentido pra você. E, caso não consiga lidar com tudo isso, busque ajuda profissional. Caso você conheça alguém, que é um sobrevivente suicida, envie essa reflexão.
Reflexão autoral de Paulo Roberto Santos Reis Soares, mestrando em Estudos de Linguagens (UNEB), graduado em Psicologia e Teologia (UCSAL), pós-graduado em Gerontologia e Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC), e pós-graduando em Neuropsicologia. Atua como psicólogo clínico, com foco na saúde mental da pessoa idosa prestando atendimento online e presencial; psicólogo das organizações e do trabalho e palestrante.
Referências
Gomes, Eliene Rocha; Constantinidis, Teresinha Cid. Sentimentos e Percepções do Luto de Sobreviventes ao Suicídio de Jovens. Psicologia: Ciência e Profissão 2023 v. 43, e255629, 1-14. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-3703003255629 Acesso em 12 de setembro de 2024 às 22h.
Vedana, Kelly Graziani Giacchero. Lidando com o luto por suicídio. Centro de Educação em Prevenção e Posvenção do Suicídio. Disponível em: https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2018/09/CARTILHA-LIDANDO-COM-O-LUTO-POR-SUIC%C3%8DDIO.pdf Acesso em 12 de setembro de 2024 às 23h.
Imagem: autoria desconhecida. Disponível em: https://www.psicologasvilaolimpia.com.br/blog/solidao/



