Por Dr. Paulo Roberto Reis
Psicólogo Clínico
Durante muito tempo, falar sobre sentimentos era visto como fraqueza, especialmente entre adultos e pessoas idosas. Muitas gerações cresceram aprendendo a “aguentar firme”, a “guardar para si” e a não demonstrar sofrimento emocional. O resultado é que, mesmo hoje, quando temos mais informação e acesso à saúde mental, ainda existe um silêncio pesado quando o assunto é buscar ajuda psicológica. Como psicólogo clínico e especialista em Gerontologia, vejo diariamente como esse silêncio impede que muitas pessoas vivam com mais leveza, acolhimento e qualidade de vida.
A saúde mental é parte fundamental da nossa saúde como um todo. Assim como cuidamos do coração, dos ossos e do colesterol, também precisamos cuidar dos nossos pensamentos, emoções, medos e dores psíquicas. Não existe envelhecimento com qualidade de vida sem bem-estar emocional. Um idoso que sofre calado com depressão, ansiedade, traumas não elaborados ou lutos não acolhidos está longe de viver uma velhice saudável. A saúde mental não é um luxo, é um direito — e precisa ser levada a sério em todas as fases da vida.
Infelizmente, muitos mitos ainda afastam as pessoas da ajuda psicológica. Existe a ideia equivocada de que psicoterapia é só para “quem está muito mal”, ou que “psicólogo é só para louco”. Esses estigmas impedem que muitas pessoas busquem apoio no momento certo e, com isso, o sofrimento se prolonga. A verdade é que todos nós enfrentamos desafios emocionais ao longo da vida — e buscar um profissional da psicologia não é sinal de fraqueza, mas de coragem e sabedoria.
Na minha experiência com a psicologia do envelhecimento, percebo como o acompanhamento psicológico pode ser transformador para as pessoas idosas. Muitas vezes, a chegada da aposentadoria, o afastamento dos filhos, o luto por perdas importantes, ou até mesmo o diagnóstico de uma doença crônica trazem impactos emocionais profundos. Ter um espaço seguro para elaborar essas vivências, resgatar autoestima, reconstruir sentido e fortalecer vínculos sociais é essencial para viver essa fase com mais autonomia e dignidade.
O psicólogo não é alguém que vai “dar conselhos” ou “dizer o que fazer”. Nosso trabalho é ouvir sem julgamento, ajudar a pessoa a se entender melhor, a lidar com suas emoções, a desenvolver ferramentas para enfrentar os desafios da vida. Na Gerontologia, esse cuidado é ainda mais precioso, pois estamos lidando com histórias longas, complexas, repletas de afetos e perdas. Não é sobre “fazer o idoso ficar feliz o tempo todo”, mas sim ajudá-lo a viver com mais sentido, mesmo diante das dificuldades naturais do envelhecimento.
Precisamos, enquanto sociedade, combater o preconceito que ainda existe em torno da saúde mental. Isso começa com a forma como falamos sobre o tema: sem vergonha, sem medo e com empatia. Precisamos ensinar às novas gerações que cuidar da mente é tão necessário quanto cuidar do corpo. E precisamos permitir que nossos idosos se sintam acolhidos e respeitados em suas dores emocionais. Cuidar da saúde mental é cuidar da vida.
Buscar ajuda psicológica não é fraqueza. É um gesto de amor-próprio. É uma forma de dar a si mesmo o cuidado que, por tanto tempo, pode ter sido negado. E se você está lendo esse texto e se identificou com alguma parte dele, saiba que nunca é tarde para começar. A saúde mental importa — e você importa.
Paulo Roberto Reis é psicólogo clínico especializado em Terapia Cognitivo-Comportamental e idealizador da Longevos Psicologia, uma clínica voltada para o cuidado da saúde mental e longevidade. Graduado em Psicologia pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL), Paulo é também mestrando em Estudo de Linguagens pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Com uma sólida formação acadêmica, é pós-graduado em Gerontologia, Terapia Cognitivo-Comportamental e Neuropsicologia. Além de sua prática clínica, Paulo é colunista do Portal Som de Papo, onde escreve sobre saúde mental aos domingos, contribuindo com informações e reflexões sobre o bem-estar psicológico.
Imagem: Nair, o psicólogo/gerontólogo Paulo Roberto Reis e Marina: histórias que se cruzam no cuidado com a saúde mental na maturidade. Retratista: Karoline Melo.




As vezes nossos medos impedem , a realização de um sonho .