Por Dr. Julio Cesar
Médico Veterinário
Especialista em Estética Animal
@nagashimajulio
Em um cenário econômico cada vez mais apertado, muitos tutores têm buscado alternativas para reduzir despesas — e os cuidados de higiene dos pets acabam entrando na lista de ajustes. Porém, quando falamos de saúde e estética animal, é importante entender onde a economia é realmente segura e onde ela pode se transformar em um gasto muito maior no futuro.
Como médico veterinário e groomer, acompanho diariamente casos de pets que chegam ao consultório com alergias, dermatites e problemas de pele que poderiam ter sido evitados com pequenas medidas preventivas. De um lado, compreendo plenamente o desafio financeiro das famílias; de outro, vejo como certos “cortes de orçamento” podem comprometer diretamente o bem-estar do animal.
Onde a economia é válida e segura
Existem práticas que podem ajudar o tutor a reduzir custos sem prejudicar o pet:
• Escovação frequente
Uma rotina simples, barata e extremamente eficaz — escovar remove pelos mortos, distribui a oleosidade natural e evita nós que, quando avançam, exigem tosas radicais ou até tratamentos dermatológicos.
• Organização da rotina de higiene
Cortar gastos não significa abandonar os cuidados: limpar patas, olhos e orelhas em casa é seguro quando feito com orientação adequada.
• Ajustes inteligentes dentro da categoria de rações
Nem sempre é necessário usar uma ração super premium. Em muitos casos, linhas premium ou até algumas rações standard de boa procedência oferecem nutrição equilibrada e atendem às necessidades do animal sem pesar tanto no orçamento.
• Comida caseira nutricionalmente balanceada (com orientação veterinária)
A dieta natural é uma alternativa válida desde que seja formulada por um profissional. Por mais simples que pareçam, alimentos como frango, arroz e legumes não fornecem todos os nutrientes que cães e gatos precisam. Com receita adequada, porém, a dieta caseira pode ser saudável — e, em alguns casos, econômica.
Onde a economia vira prejuízo
Há práticas que, embora pareçam mais baratas no início, podem se transformar em problemas sérios — e caros.
• Reduzir demais a frequência de banhos profissionais
O banho técnico não serve apenas para deixar o pet cheiroso; ele remove sujeira profunda, previne dermatites e permite identificar sinais precoces de doenças. A ausência dessa inspeção profissional facilita que parasitas, alergias e nós na pelagem evoluam silenciosamente.
• Usar produtos de baixa qualidade
Shampoos muito perfumados, com químicas agressivas ou sem controle dermatológico são uma das principais causas de alergias. O barato rapidamente vira caro quando o pet precisa de consulta, exames e tratamento.
• Substituir ração por comida “de panela” sem balanceamento
Arroz com frango parece saudável aos olhos humanos, mas é grave e nutricionalmente incompleto para pets. Falta de cálcio, excesso de carboidratos, deficiência de aminoácidos e vitaminas essenciais são problemas comuns que resultam em queda de pelo, dermatites, ganho ou perda de peso e baixa imunidade.
• Oferecer sobras da mesa da família
Temperos, sal, gordura, alho, cebola e condimentos são perigosos — alguns, inclusive, tóxicos. Além disso, o pet desenvolve seletividade e rejeita a ração depois.
• Trocas bruscas de alimentação
A mudança repentina para alimentos caseiros costuma causar vômitos, diarreia e até pancreatite em animais mais sensíveis.
A conta que não aparece no boleto — mas aparece no consultório
A crise empurra muitas famílias para adaptações. Isso é humano, compreensível e real. Mas a saúde do pet não pode se tornar vítima dessa equação. Muitas vezes, o tutor tenta economizar R$ 40–60 em um banho e em rações, alguns meses depois, precisa arcar com tratamentos dermatológicos que ultrapassam R$ 300, R$ 500 ou até mais.
O cuidado não precisa ser caro, mas precisa ser estratégico.
O melhor caminho: equilíbrio
O que recomendo aos meus pacientes — e que reforço aqui — é um modelo híbrido:
Banhos profissionais com a regularidade possível, sem eliminá-los completamente.
Manutenção caseira responsável, com produtos adequados.
Acompanhamento veterinário preventivo, reduzindo o risco de surpresas caras.
Rações de boa qualidade compatíveis com o orçamento, sem a busca por “top de linha” a qualquer custo.
Dieta caseira apenas com formulação veterinária, nunca improvisada.
Petiscos naturais permitidos, oferecidos com moderação.
Em tempos economicamente desafiadores, o tutor não precisa escolher entre cuidar do pet ou cuidar do próprio bolso — o segredo é entender onde economizar sem comprometer a saúde.
Cuidar bem não é gastar mais: é gastar certo.
Por Dr. Julio Cesar
Médico Veterinário e Especialista em Estética Animal
@nagashimajulio



