Por Paula Silveira
Autor: Gustavo M. Sá
jornalista, naturista e aprendiz atento da vida humana
@fbrn_oficial
Há experiências que ensinam sem precisar anunciar que estão ensinando. O naturismo é uma delas. Ele não oferece método, não impõe diretrizes de formação e, definitivamente, não se apresenta como caminho iluminado de autoconhecimento. Ainda assim, algo se reorganiza quando a nudez deixa de ser um acontecimento e passa a ser apenas parte da convivência. A aprendizagem surge ali, quase sem intenção, como uma consequência natural da despretensão.
O psicanalista Donald Winnicott provavelmente chamaria isso de ambiente suficientemente bom: um espaço onde as defesas se afrouxam e a pessoa pode existir sem sustentar personagens. A nudez, nesse contexto, não é exposição — é justamente o contrário. Ela desativa o teatro cotidiano. E quando o corpo não precisa provar nada, o encontro com o outro ganha uma espontaneidade que a “vida vestida” raramente permite.

Há também um aprendizado que nasce do simples conviver, mesmo dentro das regras de conduta que estruturam o naturismo. Essas normas não engessam a experiência; ao contrário, criam um ambiente de respeito em que cada um pode circular sem vigilância excessiva. Com o tempo, percebe-se que a nudez retira a urgência de interpretar o corpo alheio como se fosse um código a ser decifrado. Os gestos ficam mais diretos, a presença ganha simplicidade e a atenção deixa de ser guiada por suposições. O corpo perde o peso de significar algo e volta a ser apenas corpo — o que, paradoxalmente, facilita as relações.

E há um aprendizado que se dá justamente nesse ponto: no naturismo, a pessoa chega antes da profissão, antes da estética, antes da narrativa social que costuma anunciá-la. O encontro deixa de ser mediado por papéis e expectativas. Primeiro vem o existir — depois, todo o resto. E quando o olhar se organiza por essa sequência, algo do convívio muda de lugar. As conversas ficam mais horizontais, os vínculos mais diretos, e o corpo deixa de ocupar uma função de apresentação — aquela que, na “vida vestida”, se manifesta antes da própria pessoa.

A ausência da roupa suspende também uma parte dos códigos silenciosos que regem o cotidiano — quem deve ser notado, quem passa despercebido, quem inspira cautela (sempre existe alguém). Sem essas sinalizações imediatas, o corpo deixa de funcionar como cartão explicativo. Ele não anuncia pertencimentos, estilos, hierarquias. Ele apenas está. E é curioso como essa simplicidade desfaz, quase sem esforço, uma série de leituras automáticas que pareciam naturais, mas que pertenciam muito mais à cultura do que ao corpo.

O que se aprende, então, quando a nudez deixa de ser um assunto? Talvez algo simples: que a convivência perde tensões quando não há nada a decifrar. Que o corpo, sem mediações, é menos sobre aparência e mais sobre voz, gesto, proximidade. Que muitos desconfortos eram produzidos não pelo corpo em si, mas pelas expectativas depositadas sobre ele.
O naturismo não ensina no sentido clássico — ele desaprende. E nessa desaprendizagem silenciosa, aquilo que sobra é justamente o que raramente sobra na tal “vida vestida”: a sensação de convivência honesta, sem máscara e sem pressa. E viva o naturismo!
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