Por João Fernando Silva
Quando a gente começa a falar de upskilling e reskilling, muita gente ainda trata isso como mais um termo bonito do mundo corporativo, algo distante da realidade do varejo, da indústria, do dia a dia de quem está na operação. Mas não é. Esses dois conceitos explicam, com muita clareza, por que alguns negócios e profissionais continuam vivos, crescendo, mesmo em cenários difíceis, enquanto outros simplesmente travam e entram em inércia sem perceber.
Upskilling e reskilling têm tudo a ver com gente. Com colaborador, com líder, com gestor. Têm a ver com mentalidade. E, antes de tudo, têm a ver com exemplo.
Upskilling nada mais é do que o aperfeiçoamento vertical. É aprofundar aquilo que já faz parte do seu papel. É entender que ninguém pode mais operar com mentalidade fixa. Aquele pensamento de “sempre fiz assim e deu certo” é exatamente o ponto onde muitos negócios e profissionais começam a morrer, mesmo que eles ainda não tenham percebido.
O profissional que pratica upskilling entende que aprendizado não é algo que acontece em um curso pontual ou em um treinamento isolado. Aprendizado virou rotina. Virou responsabilidade diária. Isso conversa diretamente com o conceito de mentalidade de crescimento, amplamente estudado pela psicóloga Carol Dweck, que mostra que pessoas e organizações que acreditam que podem evoluir continuamente têm resultados consistentemente melhores do que aquelas que acreditam que suas habilidades são fixas.
No nosso contexto, isso é muito claro. Quem está aqui dentro da mentoria, quem está dentro da plataforma, já deu um passo que muita gente não deu. Está tentando se desenvolver. E quando a gente compara resultados, isso fica evidente. Enquanto muitos estão brigando para bater 100 ou 105 por cento da meta, existe um número enorme de empresas que não está conseguindo nem chegar à metade do que vendeu no ano anterior. E isso não é só mercado. Isso é mentalidade.
Upskilling, na prática, é o vendedor estudar mais sobre venda, sobre comportamento humano, sobre psicologia, neurociência, neuromarketing, comunicação, persuasão. É o gestor estudar mais sobre liderança, gestão de pessoas, processos, indicadores, tomada de decisão. É aprofundar a própria função até atingir um nível de domínio que gere resultado consistente.
Mas aqui entra um ponto fundamental. Ninguém desenvolve ninguém. O máximo que um líder faz é oferecer ferramentas. Só que ferramenta sem exemplo não funciona. Se o gestor não estuda, não se desenvolve, não aplica, não muda comportamento, ele não puxa ninguém. Palavra até incentiva, mas é o exemplo que arrasta.
Isso vale para tudo. Se você quer que o time grave vídeo, você começa gravando. Se quer que o time estude, você estuda. Se quer que o time aplique técnica de venda, você precisa conhecer a técnica, entender como ela funciona e acompanhar a aplicação. Não dá para cobrar performance de algo que você mesmo não domina. Liderança sempre foi sobre ir à frente, nunca sobre ficar atrás apenas apontando o caminho.
Já o reskilling é um movimento diferente, mas igualmente estratégico. Ele representa o aprendizado horizontal. É quando o profissional começa a desenvolver competências que não estão exatamente no centro da sua função atual, mas que são necessárias para o próximo passo.
No mundo corporativo, o reskilling aparece muito quando falamos de promoção e crescimento. Um bom vendedor, por exemplo, que começa a ser preparado para se tornar um líder, um gerente ou um gestor. Ele já tem uma bagagem enorme de campo, conhece o cliente, conhece o mercado, domina grande parte das habilidades comportamentais. O que falta, geralmente, é complementar com novas competências. Gestão de pessoas, leitura de indicadores, organização de processos, inteligência emocional aplicada à liderança, ferramentas de controle.
Esse movimento lateral é o que permite que o negócio cresça de forma estruturada. Quem fala em abrir mais lojas, expandir operação ou ganhar mercado precisa entender que crescimento exige gente preparada. Para cada nova unidade, para cada nova frente de negócio, alguém precisa estar pronto para liderar. E isso não se constrói de última hora.
O reskilling também tem um papel estratégico enorme na retenção de talentos. Quanto mais profissional o ambiente, quanto mais claro é o caminho de crescimento, mais as pessoas querem ficar. Pessoas não saem apenas por dinheiro. Elas saem quando não enxergam futuro. Quando percebem que estão estagnadas.
Quando uma empresa investe em upskilling e reskilling, ela aumenta produtividade, reduz erro, melhora processo, ganha eficiência operacional e cria um time muito mais adaptável. E adaptabilidade hoje virou vantagem competitiva. Mercados mudam rápido, comportamento do consumidor muda rápido, canais mudam rápido. Quem tem mentalidade fixa trava. Quem tem mentalidade de aprendizado absorve, ajusta e segue.
Isso impacta diretamente a competitividade do negócio. Empresas com profissionais mais preparados se destacam, conquistam mais clientes e conseguem sustentar resultados por mais tempo. Além disso, esse ambiente estimula inovação. Pessoas capacitadas trazem novas perspectivas, questionam processos antigos, propõem soluções melhores e ajudam a evoluir produto, serviço e experiência.
No final, upskilling e reskilling não são sobre cursos. São sobre cultura. Sobre criar um ambiente onde aprender não é exceção, é regra. Onde mudar não é ameaça, é necessidade. Onde o líder entende que o crescimento do negócio começa, obrigatoriamente, pelo próprio crescimento.
Quem não entende isso pode até continuar operando por um tempo, mas vai operar cada vez mais no limite. E mercado nenhum perdoa estagnação por muito tempo.



