Por Thiago Alves Eduardo-Psicólogo
@thiagoalvespsic
Adiar algo importante é um comportamento mais comum do que se imagina. Quem nunca deixou para amanhã uma tarefa essencial, uma conversa necessária ou até um sonho que parecia “não caber no momento certo”? A procrastinação é, de fato, uma das experiências humanas mais universais e também uma das mais frustrantes. Ela nos faz sentir culpa, ansiedade e sensação de estar “travado”, mesmo quando sabemos o que deveria ser feito.
À primeira vista, pode parecer apenas uma questão de preguiça ou falta de organização. Contudo, do ponto de vista psicológico, a procrastinação é um fenômeno muito mais profundo. Ela não está ligada apenas à gestão do tempo, mas, sobretudo, à regulação emocional. Procrastinamos não porque não sabemos o que fazer, mas porque não sabemos lidar com o que sentimos diante do que precisamos fazer.
Quando adiamos uma tarefa, raramente estamos fugindo da tarefa em si, estamos fugindo do desconforto emocional que ela provoca. Pode ser medo de errar, de não estar à altura, de ser julgado, ou até o receio de encarar a própria vulnerabilidade diante de algo desafiador. Em outras palavras, procrastinar é uma tentativa (inconsciente) de evitar sentir.
O papel das emoções na procrastinação
O cérebro humano busca naturalmente evitar o desconforto e obter prazer rápido. Assim, quando uma tarefa ativa emoções desagradáveis, ansiedade, insegurança, tédio ou frustração o cérebro tende a redirecionar a atenção para algo que ofereça recompensa instantânea: navegar nas redes sociais, assistir a uma série, limpar a casa ou até revisar tarefas antigas. Por alguns instantes, isso gera alívio. Mas logo em seguida, surge a culpa e o peso daquilo que foi deixado para depois.
O perfeccionismo disfarçado
Um dos fatores mais frequentes associados à procrastinação é o perfeccionismo. Pessoas perfeccionistas costumam adiar o início de uma tarefa por medo de não conseguir realizá-la da forma ideal. Pensamentos como “preciso estar mais preparado”, “ainda não é o momento certo” ou “não posso errar” funcionam como barreiras internas. O perfeccionismo, nesse sentido, é uma tentativa de se proteger da frustração mas acaba gerando o efeito oposto: paralisação e autocrítica.
A autocrítica e o ciclo do adiamento
Outro aspecto importante é a autocrítica excessiva. Muitas pessoas que procrastinam se julgam com dureza, reforçando a ideia de que “não têm disciplina”, “são preguiçosas” ou “nunca mudam”. Esse tipo de pensamento cria um ciclo emocionalmente desgastante: quanto mais a pessoa se culpa, mais ansiosa e desmotivada se sente e, por consequência, mais adia o que precisa fazer.
A saída para esse ciclo passa pelo desenvolvimento da autocompaixão. Em vez de se punir por procrastinar, é preciso aprender a se observar com gentileza e curiosidade. Perguntar-se: “O que estou tentando evitar sentir agora?” ou “Que medo está me paralisando?” ajuda a transformar o comportamento em um ponto de autoconhecimento.
Procrastinar é humano e pode ser transformador
Ao compreender a procrastinação sob uma lente terapêutica, percebemos que ela não é um inimigo a ser derrotado, mas um sinal a ser escutado. Cada adiamento pode revelar algo importante sobre nossos medos, inseguranças e padrões emocionais.
Cuidar do tempo é cuidar de si
No fundo, falar de procrastinação é falar de autocuidado. O modo como utilizamos o tempo reflete o modo como nos relacionamos conosco mesmos. Cuidar do tempo, portanto, é também cuidar das emoções, dos limites e das escolhas.
Aprender a agir mesmo diante da incerteza é um exercício de coragem emocional. Não é sobre eliminar o medo, mas sobre seguir em frente com ele. Como diz a psicologia contemporânea, o objetivo não é sentir-se pronto, mas se permitir começar e aprender durante o caminho.
Uma nova relação com o fazer
Superar a procrastinação não significa viver em produtividade constante, mas aprender a agir com consciência e propósito. Isso envolve acolher as emoções difíceis, reconhecer os próprios limites e redefinir o que é prioridade.
Quando deixamos de lutar contra a procrastinação e passamos a compreendê-la, abrimos espaço para uma relação mais leve com o tempo, com o trabalho e com nós mesmos. A mudança acontece não pela cobrança, mas pela compreensão e essa é a essência do processo terapêutico.
Se você sente que tem adiado sonhos, decisões ou tarefas importantes, talvez seja hora de olhar para esse comportamento com mais profundidade. A procrastinação pode estar te mostrando algo sobre suas emoções, medos ou crenças. A terapia é um espaço seguro para compreender esses padrões e construir uma nova forma de agir com mais clareza, propósito e gentileza.
Referência bibliográfica:
Sirois, F. M., & Pychyl, T. A. (2013). Procrastination and the priority of short-term mood regulation: Consequences for future self. Social and Personality Psychology Compass, 7(2), 115–127.



