Por Elisângela dos Santos
Mãe de Santo Especialista em búzios e cartas. Instagram: @desvendando_os_segredos
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No PORTAL SOM DE PAPO, a conversa é sagrada — e hoje, vamos falar que no universo do Candomblé Angola, os alimentos não são apenas sustento físico — são pontes entre mundos, oferendas vivas que carregam axé, memória ancestral e respeito aos inkisis. Cada ingrediente, cada preparo, cada entrega é um gesto de reverência e conexão com o sagrado.
🌿 Alimento como veículo de axé
No Candomblé, o axé é a força vital que permeia tudo. Os alimentos são preparados com cuidado ritual para que carreguem essa energia. O modo de cozinhar, os utensílios usados, o silêncio ou os cânticos durante o preparo — tudo influencia o axé que será transmitido.
Mais do que sabor, o alimento religioso é vibração. Ele alimenta o corpo, mas também o espírito, os ancestrais e os inkisis. É por isso que não se come qualquer coisa em qualquer momento: há dias certos, pratos certos, e destinos certos para cada comida.
🍲 Oferendas e obrigações
Cada inkisi tem suas preferências alimentares. Nzazi, por exemplo, pode receber pratos à base de milho e azeite de dendê, enquanto Katendê se agrada das folhas e preparos verdes. Essas oferendas não são apenas simbólicas — são formas de comunicação, pedidos, agradecimentos e pactos.
A comida também é usada em obrigações, que são rituais de fortalecimento espiritual. Nesses momentos, o alimento é consagrado e pode ser compartilhado entre os presentes, criando uma comunhão entre humanos e divindades.
🍚 Comida como memória e resistência
Em tempos de apagamento cultural, manter viva a culinária religiosa é um ato de resistência. Os pratos do Candomblé Angola carregam saberes ancestrais trazidos da África Central, especialmente das nações Bantu. Ao preparar e compartilhar essas comidas, reafirmamos nossa identidade, nossa fé e nossa história.
Além disso, a comida é um elo entre gerações. É comum que filhos de santo aprendam com suas mães e pais de santo os segredos dos temperos, os significados dos ingredientes e os momentos certos de cada preparo. É tradição viva, passada de boca em boca, de mão em mão.
🌺 Conclusão
No Candomblé Angola, alimentar é sagrado. Cada prato é uma oferenda, uma oração, uma lembrança. Honrar os alimentos religiosos é honrar os inkisis, os ancestrais e a própria vida. Que nunca nos falte o respeito por essa sabedoria ancestral — e que sempre haja comida no ponto, com axé e intenção.



