sexta-feira, abril 19, 2024
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Brasil e o teatro

Por Heberti Hipollito

As representações teatrais no Brasil se “iniciam” ainda no período de colonização, com os Jesuítas que tinham como foco converter os indígenas ao catolicismo, já que os mesmos acreditavam que os povos nativos viviam numa vida de pecado, por não seguir os mesmos costumes e deuses.
O maior nome que esteve na frente da criação dessas peças foi o José de Anchieta, um padre que desembarcou no pais ainda como noviço aos 19 anos, de sua autoria um dos textos mais conhecidos é o “Auto de São Lourenço ” que é escrito em português e espanhol, trazendo na sua história figuras da cultura local. Os Jesuítas criaram a companhia de Jesus, na qual o José de Anchieta fazia parte, os Jesuítas foram expulsos do pais no final do século XVI.
No Brasil, o teatro passou por várias fases como a dos séculos XVII e XVIII, nos quais pela falta de documentação ocorre algo chamado de “vazio de dois séculos”, o que não quer dizer que não ocorreram representações teatrais nesta época os poucos registros que existem desse período são de cerimônias cívicas-religiosas.
A luta na costa brasileira contra os franceses e holandeses, assim como o bandeirantismo são apontados como motivos para o “sumiço” do teatro no Brasil.
No século XVIII a maioria dos elencos eram formados por negros e pardos, já que ser atriz ou ator era considerado algo para classes inferiores. Uma das grandes curiosidades desse período era que os atores cobriam suas peles com pó branco, já que os textos aos quais encenavam era espanhóis e italianos, onde a sua imagem como corpo negro, não era bem quista e por isso escondiam suas peles.
Dois séculos depois, já no século XX a presença nos palcos já e predominantemente branca, e onde ocorria frequentemente não só no teatro como na TV o “black face”, pratica de colocar atores e atrizes brancos para interpretarem papéis de personagens negros, onde pintava-se os atores para a encenação, prática que foi abolida após muitos anos. Ainda nesse período surge o Teatro experimental do Negro, que levou muitos atores negros aos palcos do Brasil e exterior.
Chegando no século XXI o fazer teatral ainda tem uma predominância branca e o consumo do teatro é bem relativo, em muitos situações a plateia é constituída apenas por outros artistas. No pais não é muito difícil, encontrar pessoas que nunca foram ao teatro, muitos deles por ter uma visão classicista do consumir teatro, acreditam que teatro não é para pessoas de classes “inferiores”, que não á teatro acessível as suas condições financeiras e que existe uma vestimenta exata/adequada para se ir aos espetáculos, que não teriam nos seus guarda-roupas.
Essa predominância e também a dificuldade para formação de plateia, tonar viver de teatro uma batalha diária. Atores baianos assim como eu, sabem bem o que é isso, pagar para trabalhar, trabalhar de graça, muito esforço e pouco dinheiro, dificuldades para se profissionalizar e ter amigos e parentes que nunca vão te prestigiar por “não ter roupa para ir ao teatro”.
Ao ser perguntado sobre o fazer teatral no Brasil/Bahia o jovem Khalil Emmanuel ator, escritor, estudante de Licenciatura em Teatro na UFBA e morador da cidade de Candeias relata o seguinte. “Ser ator no Brasil é enfrentar dificuldades e estar sempre diante de desafios, e eu, sem titubear, afirmo que ser ator em Candeias é um desafio dobrado.
A prática teatral foi se deteriorando com o tempo e o descaso do poder público. A antiga Academia de Artes Dramáticas de Candeias, fundada pelo professor Rolmar Duarte, não existe mais, bem como os diversos grupos de teatro que não só se apresentavam, mas também ofereciam oficinas para as comunidades. Nos últimos anos, pela falta de espaços, a falta de profissionais, a falta de investimento do poder público, se alguém quiser ter uma experiência com o teatro deve recorrer a capital e isso é, sem dúvidas, um privilégio para poucos.
Entretanto eu tenho em mim a esperança de que está situação mude, os artistas candeenses estão em movimento e exigindo seus direitos e cobrando o poder público, e a atual gestão parece estar interessada em contribuir e ajudar. O que nos resta é seguir em frente e não lamentar, nem se acomodar. É preciso continuar e lutar pela mudança”.
As dificuldades no sonho de viver de teatro não são encontradas apenas no interior da Bahia, mas também na capital como relata Valéria Fernandes atriz, estudante de Licenciatura em Teatro na UFBA e moradora do bairro da Massaranduba, na Cidade baixa em Salvador. “No Brasil, sonhar é um ato de ousadia extrema. E o fazer teatro é um sonho no qual pretendo nunca despertar. Apesar das inúmeras dificuldades que implicam a minha jornada artística e tenho certeza que a isso ocorre com outras pessoas. É comum compartilhamos das mesmas dores quando fazemos um tipo de teatro mais vulnerável. Por conta dessas problemáticas, alguns acabam seguindo outros caminhos profissionais por falta do recurso financeiro e psicológico. O que é lamentável, pois tenho certeza de que tais pessoas estariam contribuindo para o crescimento da arte e cultura em nosso país. Que tragicamente encaminha-se para o abismo quando governantes se empenham na sabotagem da cultura. E estimulam o retrocesso de uma arte que há muitos anos é considerada burguesa. Dentro desses pensamentos, busco uma forma de sobreviver de maneira saudável em meio ao caos. E graças a Dionísio estou gozando de momentos espetaculares através e por causa do teatro. Coisas que sempre me disseram que seria impossível, pois venho da periferia, mais precisamente da comunidade de Alagados. Como: apresentar no palco principal do teatro Castro Alves com o aprendiz em cena, curso técnico de teatro do qual fui aluna em 2019.
E esses pensamentos negativos dos outros muitas vezes acabam contribuindo para a fragilidade da minha saúde mental. Por sofre com essas questões, não recuso a oportunidade de ser gentil com um artista”.
O teatro é uma arte livre e não pertence apenas a uma classe social, uma raça, não importa se você é do interior ou da capital. Para ir ao teatro, sim! é preciso muitas vezes dinheiro, mas também existem programações gratuitas ou de menor valor. Não importa se você vai de chinelo ou salto alto, só vá, o teatro ou melhor a arte pertence a todos.

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