quinta-feira, abril 18, 2024
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Depressão e Desejo Sexual

Por Gilberto Romano

Independente de sua relação causa-efeito, depressão e diminuição da libido estão associadas. No intuito de se definir uma conduta mais objetiva nessas situações, os Drs. Robert L. Phillips e James R. Slaughter, da Escola de Medicina da Universidade de Columbia – EUA, desenvolveram um estudo a respeito do tratamento e da abordagem da depressão relacionada com diminuição do desejo sexual. Um resumo desse estudo foi publicado na revista médica American Family Physician deste ano.
É comum as pessoas terem dificuldades para transcorrer sobre seus problemas e insatisfações sexuais (diminuição da libido, impotência, incapacidade de obter orgasmo) com o médico se esse não for direto à questão. Os efeitos sexuais de diversos remédios prescritos pelos médicos também são muitas vezes ocultados. Algumas vezes, tais alterações não são percebidas enquanto os parceiros não as queixam, ou com freqüência, são responsabilizadas pela racionalização com bases em problemas, valores ou práticas sociais e, assim, passam por um longo tempo sem serem questionadas ou resolvidas. Por isso, percebe-se que um importante fator de dificuldade diagnóstica é o não questionamento dos médicos sobre tais problemas. Num estudo com pacientes em uso de um antidepressivo específico, houve uma chance quatro vezes maior dos pacientes falarem sobre problemas sexuais se indagados pelos médicos. Há uma estreita relação entre a gravidade da depressão e da diminuição da libido.
Antes de começar o tratamento para depressão, é importante que o médico tenha uma idéia real das funções sexuais do paciente o que necessitará ao mesmo tempo, que o próprio paciente esteja atento a isso. Assim pode-se perceber com maior facilidade, alterações na função sexual após o início da terapia medicamentosa.
Todas as pessoas que vão ser tratadas e que obtêm uma melhora da depressão após o tratamento, mas que mantém as alterações sexuais, devem expor ao médico as seguintes informações, caso sejam elas verdadeiras:
– uso de outras medicações: drogas antipsicóticas (haloperidol, thioridazine, risperidone); cimetidina; drogas para diminuir a pressão arterial; em fim, quaisquer outros medicamentos em uso;
– contraceptivos orais hormonais em mulheres no fim do período reprodutivo; mulheres sob o uso de reposição hormonal pós-menopausa;
– fatores estressantes psicológicos e sociais;
– uso de álcool e drogas ilícitas como cocaína, narcóticos e quaisquer outras drogas.
Um importante número de medicamentos antidepressivos pode levar a uma diminuição da libido apesar da melhora do quadro depressivo. Em um estudo, cerca de metade dos pacientes relataram tais alterações quando utilizando um grupo específico de drogas (Fluoxetina, Paroxetina, Fluvoxamina, Celexa e Sertralina). Mesmo com a descoberta de novas drogas mais específicas contra a depressão, as drogas já utilizadas têm sido também usadas para o tratamento de alguns tipos de dor, podendo levar a tais efeitos na função sexual desses pacientes.
Quando a libido continua diminuída mesmo com o tratamento do processo depressivo, pode-se tentar uma diminuição da dose do antidepressivo utilizado. Tem-se percebido uma ausência de alteração no quadro depressivo quando essas doses são abaixadas. Não há grandes evidências de que a retirada da droga por um ou dois dias possa melhorar tais problemas podendo ao contrário, piorar o quadro depressivo. Caso a redução da dosagem dos antidepressivos não mantenha o tratamento adequado para a depressão, deve-se pensar em outra droga aliada à já utilizada, ou no lugar dessa.
É importante lembrar que diante de um quadro depressivo, seja ele devido a distúrbios sexuais ou o oposto ou ainda sem essa relação causa-efeito, diversas abordagens podem ser propostas de acordo com cada caso e com a experiência do médico ou terapeuta em questão, antes que sejam indicados medicamentos antidepressivos. A vida por si só proporciona momentos de tristeza, desânimo, introspecção, em fim, diminuição de energia vital como um todo. As drogas antidepressivas podem agir, muitas vezes, como aliviadoras de sintomas, não agindo na raiz do problema, que assim, pode retornar com diversos outros sintomas, não necessariamente psíquicos (especialmente em crianças, adolescentes e idosos). Existem situações, no entanto, que estão relacionadas com alterações bioquímicas cerebrais que diminuem certos neurotransmissores (partículas que levam informações cerebrais para as diversas áreas do cérebro) levando a quadros depressivos mais intensos e irresponsivos a terapias não medicamentosas, quando então estão indicadas as drogas. Essas também estão prescritas no caso de depressões graves associadas com risco de vida (suicídio). Todas as situações graves devem ser familiares aos terapeutas não-médicos para que os mesmos possam encaminhar tais pacientes aos médicos, em tempo hábil. Da mesma forma, é importante que os médicos interpretem o quadro depressivo como um todo, colocando-o dentro da história de vida da pessoa. Somente dessa forma, poderá ele, diferenciar uma depressão reacional a situações estressantes, de uma doença mais grave e que necessitará de uma intervenção mais proeminente. Deve ser lembrado também, que por vezes, as próprias pessoas demandam o uso de remédios pelo fato de não estarem dispostas a descobrir e enfrentar as situações estressantes da vida naquele momento.
Entretanto, há várias correntes de estudo, cada qual com sua teoria e sua abordagem terapêutica, o que transforma tal assunto nos mais complexos em se tratando de saúde mental, física e social, nessa época histórica de tantas mudanças de valores culturais e individuais. Assim sendo, parece ser de extrema importância, uma boa relação entre o médico/terapeuta e seu paciente, aí está calcada a semente do sucesso terapêutico.

Fonte: Am Fam Physician 2000; 62:782-6.
Wladimir Silva de Oliveira (@psiwladimir)
Psicanalista, Sexólogo, Neuropsicopedagogo, Aromaterapeuta

Fonte da imagem: Blog Oficial Farma

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