Por Paulo Roberto Reis
Instagram: @psipaulorobertoreis
Geralmente quem entra num relacionamento deseja construir laços de afeto. Quando o amor é a mola propulsora há carinho, cuidado e respeito. Um relacionamento saudável – que pode ser de amizade, namoro, familiar e outros – está pautado no bem-estar de todas as pessoas envolvidas na relação. Não existe relacionamento saudável se uma das partes não está bem. De modo especial, quando o relacionamento é de namoro/casamento a relação precisa tomar alguns cuidados para não se tornar abusiva. A relação abusiva, também chamada de tóxica, ocorre quando constantes violências são cometidas. Existem várias modalidades de abusos, inclusive a psicológica.
A violência psicológica tem como características condutas que causem danos emocionais, como, diminuição da autoestima, ciúme excessivo, falta de privacidade, constrangimento, ameaça, humilhação, manipulação, controle, ridicularização, chantagem e/ou restrição da liberdade. Inicialmente, uma pessoa em situação de abuso não consegue identificar esses aspectos como uma violência. Sem lesões físicas, a violência psicológica avança, por vezes, de forma lenta e discreta. Contudo os prejuízos não são menores do que qualquer outro tipo de violência. Pesquisas apontam, que a violência física é precedida por inúmeras violências de ordem psíquica. Dificilmente, um relacionamento abusivo começará através de um tapa ou soco.
Não é incomum percebermos relacionamentos abusivos ao nosso redor. Vale ressaltar, que as maiores vítimas são as mulheres, por conta da predominância das culturas machista e misógina. Mas, independentemente do sexo ou gênero, relacionamentos abusivos ocorrem com muita frequência. Os resultados são a hipervigilância, dor, angústia, ansiedade, medo, incapacidade para tomar decisões, perda de concentração e memória, dentre outros. Os prejuízos de um relacionamento abusivo geram danos à saúde. As vítimas são comprometidas não apenas no seu estado emocional, mas, também, físico, espiritual e social.
O modus operandi do abusador [ou abusadora] é o mesmo, mas a forma pode variar de caso a caso. O abusador (a) faz com que a pessoa duvide de si mesma, rebaixando a sua autoestima e criando uma relação de dependência afetiva. O emparelhamento afetivo faz com que a vítima acredite apenas no abusador (a), e se coloque num lugar de sujeição aos seus caprichos e violências. Expressões, assim, podem definir situações de abuso no namoro: “estou agindo assim porque eu te amo”; “estou te protegendo”; “eu sou assim, mas eu amo você”; “eu fiz isso, por sua culpa”. Assim, a vítima sente-se culpada, ao mesmo tempo, que se sente validada e aprovada pelo agressor (a), o que dificulta ainda mais o reconhecimento das violências, bem como a separação ou denúncia dos abusos.
A Psicoterapia pode contribuir com a pessoa que se encontra numa relação abusiva oferecendo ferramentas para autoanálise do relacionamento, identificação dos abusos, ampliação do autocuidado, fortalecimento da rede de apoio, tomada de decisão e redução dos danos psicológicos. Obviamente, que não estou me referindo a uma receita de bolo, mas um processo complexo, porém tangível. Se você está num relacionamento abusivo, busque ajuda agora mesmo. Talvez esse seja o seu primeiro passo. Não namore uma pessoa abusiva, caia fora!
Reflexão autoral de Paulo Roberto Santos Reis Soares, mestrando em Estudos de Linguagens (UNEB), graduado em Psicologia e Teologia (UCSAL), pós-graduado em Gerontologia e Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC), e pós-graduando em Neuropsicologia. Atua como psicólogo clínico, com foco na saúde mental da pessoa idosa prestando atendimento online e presencial; psicólogo das organizações e do trabalho e palestrante.
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