Por Alan Dantas
@dicasdodelicia
As masculinidades ocupam lugar de grande destaque na contemporaneidade, em diversos aspectos. A ampliação do discurso e da ação feminista, bem como a elucidação em torno de dinâmicas históricas e vivenciais, fazem-nos continuamente questionar a herança patriarcal e o machismo estrutural que constituem a sociedade brasileira. No novembro azul, quando celebramos a campanha de prevenção contra o câncer de próstata, como também alertamos sobre a saúde do homem, uma questão que ainda parece sombria precisa se levantar: por que tão poucos homens no consultório de Psicologia?
A desculpa de que essa realidade é cultural tem até razão de ser… Ao longo da história e cada vez mais, o masculino figura como ideal máximo de bravura, como se nela não coubesse compreender-se gente que também dói. O papel de chorar e reclamar das dores, numa atitude machista, ocupa o imaginário social como se fosse algo do terreno do feminino e do infantil. Crianças e mulheres podem sentir, homens não. E aqui há um seríssimo problema: associar a autenticidade da dor à interdição de doer e falar sobre isso com alguém termina por render adoecimentos diversos que seguem silenciados, culminando no prejuízo da vida, no âmbito individual e das relações com o outro.
Majoritariamente, temos mulheres no consultório de Psicologia, esse lugar em que estamos autorizados a assumir fragilidades. E certamente isso acontece porque, aos homens, essa é uma tarefa que rende culpa e vergonha histórica e culturalmente instituídas. Por onde começar esse processo? Como arranjar um jeito de pedir ajuda e assumir que “estou doendo e não sei lidar com isso”?
A busca de uma escuta qualificada com um psicólogo pode ser salvadora, principalmente na realidade que vivemos, em que 76% dos suicídios cometidos no Brasil têm os homens por autores. Como todo processo, o início é fundamental para que alguém se dê à permissão da psicoterapia e mude esse dado. Do contrário, as masculinidades tóxicas que nos constituem individual e socialmente continuarão a elaborar comportamentos que nos matam.
O esforço precisa ser coletivo. E não falo aqui unicamente de um convite ou um incentivo para a ida ao consultório. Precisamos mudar os discursos que sustentam o direito à dor, característica possível ao longo de todo o desenvolvimento humano. Na educação formal, nos saberes que construímos em casa e na rua, em todos os espaços de vida, precisamos combater aquilo que interdita a nossa fala. O consultório de Psicologia é, entre tantas coisas, um lugar de encontro com quem nós somos. E esse encontro exige (muita) coragem. Essa é uma excelente oportunidade pra ser bravo!