Por Dr Paulo Roberto Reis
Instagram: @psipaulorobertoreis
É fato notório. Já estamos nos tornando um país de pessoas mais velhas. A estimativa é que a nossa população idosa continue a crescer, enquanto a taxa de natalidade desacelere a cada ano. De acordo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2022), o Brasil tem mais de 32 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o que representa 15,6% desse segmento. Esse fenômeno é consequência de uma série de conquistas e avanços, sobretudo nas áreas do desenvolvimento social e da medicina. Diante desse cenário, uma questão emerge entre nós: quem vai cuidar de você na velhice? Já pensou sobre isso ou tem evitado refletir sobre essa realidade? Aqui estão alguns pontos a serem considerados para a nossa reflexão sobre o assunto.
Segundo o artigo 229 da Constituição Federal de 1988, os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. O Estatuto do Idoso enfatiza que todos os filhos e familiares próximos devem compartilhar as responsabilidades de cuidar e amparar as pessoas idosas. Além disso, sublinha que essa responsabilidade também deve ser dividida com a sociedade e o Estado. Entretanto, as famílias não são mais numerosas como aquelas de 1988. Na nossa cultura vigente, há muitas pessoas que não querem ter filhos ou que querem apenas um ou dois filhos. Sim, as famílias têm menos filhos e menos casamentos. A emancipação – em andamento – da mulher e o seu papel na sociedade, planejamento familiar, bem como os contraceptivos ajudam-nos a entender melhor sobre esse evento.
Outrossim, precisamos ponderar diversos fatores para além da taxa de natalidade decrescente, como, a distância geográfica de muitos familiares, limitações financeiras, conflitos familiares e complicações de saúde. Ora, se todos nós estamos envelhecendo e não temos mais tantos jovens, isso significa dizer que seremos pessoas velhas cuidando de pessoas velhas? Para os especialistas, a despeito da mudança rápida no perfil demográfico nas últimas décadas, ainda falta políticas públicas efetivas. A solução para a problemática dificilmente será resolvida com apenas uma medida, mas, sim, com várias.
Quando falamos sobre políticas públicas precisamos ampliar o leque de possibilidades e perfis. Estamos falando sobre a diversidade contida no grupo de pessoas idosas. Ninguém envelhece igual a ninguém. Temos que estar abertos para uma discussão maior sobre o papel de cada ator social nesse contexto. Precisamos pensar mais sobre envelhecimento ativo e saudável. É necessária uma estrutura sociopolítica para atender as múltiplas demandas, a partir de um sistema de saúde mais disponível e preparado. Além disso, temos que garantir mais autonomia, independência e participação social de idosos. Devemos considerar os indicadores de qualidade de vida e bem-estar, dentre eles, a provisão de cuidados por parte do próprio Estado.
Nessa esteira, o envelhecimento não pode ser visto como um problema. O problema, na verdade, é a falta de gerenciamento e ordenamento dos sujeitos sociais. A longevidade deve ser vista como um bem, uma grande conquista de todos nós e, portanto, como uma questão de saúde pública. Com o avanço da idade, outras questões surgem, e devemos estar atentos ao aprimoramento das nossas redes de suporte. Enfim, quem vai cuidar de você na velhice? A reflexão permanece de pé.
Reflexão autoral de Paulo Roberto Santos Reis Soares, mestrando em Estudos de Linguagens (UNEB), graduado em Psicologia e Teologia (UCSAL), pós-graduado em Gerontologia e Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC), e pós-graduando em Neuropsicologia. Atua como psicólogo clínico, com foco na saúde mental da pessoa idosa prestando atendimento online e presencial; psicólogo das organizações e do trabalho e palestrante.
Referências
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Debert, G. A Antropologia e Os Estudo Dos Grupos e das Categorias De Idade. In: Barros, M. L. (Org.) Velhice Ou Terceira Idade?. Estudos Antropológicos Sobre Identidade, Memória E Política. 4. Ed. Rio De Janeiro: Editora Fgv, 2007. P. 47-68.
Imaginário, C. O Idoso Dependente Em Contexto Familiar. Coimbra: Formasau, 2004. 242 P.
Mrejen, Matías; Nunes, Letícia; Giacomin, Karla. Envelhecimento Populacional E Saúde Dos Idosos: O Brasil Está Preparado? Instituto De Estudos Para Políticas De Saúde Estudo Institucional No. 10, fevereiro de 2023.
IMAGEM: Idoso sozinho. Autoria desconhecida.