Por Eneida Bonanza
Existem dores que não gritam. Elas se instalam de forma silenciosa, por vezes imperceptível, e vão se acumulando como pequenas gotas dentro de um copo que, mais cedo ou mais tarde, transborda. O silenciamento emocional é um fenômeno humano profundo, que atravessa histórias individuais, familiares e sociais. Não se trata apenas de não falar sobre o que sentimos, mas de aprender a esconder de nós mesmos a intensidade das nossas vivências.
O condicionamento do silêncio
Desde cedo, muitos de nós fomos educados a acreditar que emoções são sinais de fraqueza. As frases “engole o choro”, “seja forte”, “não reclama de barriga cheia” ou “não fala disso” se repetem como mantras familiares. Esse tipo de mensagem, internalizada na infância, vai se transformando em uma programação inconsciente: sentir é errado, demonstrar é perigoso, pedir ajuda é vergonha.
O resultado é que, quando adultos, carregamos não apenas nossas dores, mas também a incapacidade de comunicá-las. Criamos máscaras sociais que nos afastam do que somos de verdade. Sorrimos quando estamos tristes, respondemos “está tudo bem” quando dentro de nós há um grito preso.
O corpo como depositário das emoções
A ciência já mostrou que emoção reprimida não desaparece. Pesquisas em neurociência revelam que, ao bloquear sentimentos, o cérebro ativa mecanismos de estresse contínuo, liberando cortisol e adrenalina em excesso. Com o tempo, esse estado de alerta constante prejudica o sistema imunológico, altera o sono, aumenta a inflamação e contribui para o surgimento de doenças físicas.
Não é raro vermos sintomas como gastrites, enxaquecas, dores musculares, palpitações, crises de ansiedade e até doenças autoimunes ligados a emoções não expressas. O corpo, como um sábio mensageiro, fala aquilo que a voz se recusa a dizer.
A dimensão sistêmica do silêncio
O silenciamento emocional também tem raízes transgeracionais. Famílias inteiras carregam histórias de segredos, traumas não elaborados, perdas nunca verbalizadas. Muitas mulheres aprenderam a calar abusos, muitos homens foram ensinados a sufocar lágrimas, muitos filhos cresceram em lares onde não havia espaço para a vulnerabilidade.
A Constelação Familiar nos mostra que esse silêncio atravessa gerações como uma herança invisível. Quando alguém, na atualidade, escolhe romper o ciclo e falar sobre suas dores, não está apenas cuidando de si: está libertando todo um sistema que por décadas, ou até séculos, permaneceu em mutismo.
A resistência em buscar ajuda
Um dos aspectos mais delicados do silenciamento é a resistência em pedir ajuda. A cultura da autossuficiência, tão exaltada em nossa sociedade, faz com que muitos se sintam envergonhados por admitir que não conseguem lidar sozinhos. No entanto, a verdadeira coragem está justamente aí: reconhecer os próprios limites e permitir que alguém caminhe ao nosso lado.
Pedir ajuda não diminui ninguém. Ao contrário, revela a grandeza de quem se autoriza a ser humano, vulnerável, real. É um ato de amor próprio, de maturidade e de libertação.
Rompendo o ciclo do silêncio
Falar sobre o que sentimos não é apenas uma questão de desabafo. É um processo de integração emocional. Quando damos nome àquilo que nos atravessa, transformamos o invisível em consciente, e abrimos espaço para o movimento de cura.
Esse falar pode acontecer de muitas formas:
Na terapia, onde existe um espaço seguro e sem julgamentos para a dor ganhar voz;
Na escrita terapêutica, onde palavras no papel aliviam o peso do coração;
Em práticas corporais, como a meditação, a respiração consciente, a microfisioterapia, que ajudam o corpo a liberar tensões acumuladas;
Na conversa com alguém de confiança, onde a escuta atenta é, muitas vezes, o maior remédio.
O convite à coragem
Se você sente que há algo guardado demais dentro de você, talvez seja a hora de se permitir falar. Não é preciso gritar ao mundo, nem expor sua intimidade a todos. Mas é vital que você não esconda de si mesmo o que sente. Procurar ajuda não é fraqueza: é coragem. É escolher viver de forma mais leve, mais consciente, mais inteira.
Porque, no fim, o silêncio pode até parecer força, mas é a voz que cura. Quando a emoção encontra palavra, o corpo encontra descanso. E quando o coração se permite ser escutado, a vida reencontra o fluxo da esperança.
Eu sou Eneida Bonanza, terapeuta e fisioterapeuta, e compartilho reflexões em minha rede social @eneidabonanza.
Convido você também a conhecer a Clínica CHER – Saúde Humanizada @chersaude, um espaço que reúne uma equipe multidisciplinar de profissionais comprometidos em olhar para cada paciente de forma integral, humana e acolhedora.
Na CHER, acreditamos que saúde não é ausência de doença, mas presença de equilíbrio. E esse equilíbrio começa quando encontramos coragem para falar, sentir e cuidar de nós mesmos.



