Por Eneida Roberta Bonanza
Setembro Amarelo não é apenas um mês no calendário. Ele é um chamado coletivo para olharmos uns nos outros com mais presença, para lembrarmos que a vida, por mais frágil que pareça, sempre pode encontrar novos caminhos de florescimento.
A campanha nasceu no Brasil em 2015, pela união entre o Centro de Valorização da Vida (CVV) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), inspirada no Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, lembrado em 10 de setembro pela OMS desde 2003. Mas sua raiz simbólica é ainda mais tocante: em 1994, nos Estados Unidos, um jovem chamado Mike Emme, apaixonado por um Mustang amarelo que ele mesmo restaurou, escolheu encerrar a própria vida. No funeral, sua família e amigos distribuíram fitas amarelas com um pedido silencioso: “Se precisar, peça ajuda”. Esse gesto simples, mas profundo, acendeu uma chama que se espalhou pelo mundo e hoje ilumina cidades inteiras com a cor amarela — como quem acende faróis no meio da noite para dizer: “Você não está sozinho”.
O que o Setembro Amarelo nos lembra
A cada ano, monumentos e prédios são iluminados para que a sociedade lembre: falar sobre suicídio não é um tabu, é um ato de amor. A campanha convida todos nós a olharmos para além dos sorrisos que escondem dores, para além das máscaras sociais. Quantas vezes estamos cercados de pessoas adoecidas emocionalmente e não percebemos? Quantas vezes somos nós, em silêncio, sem coragem de dividir nossa dor com ninguém?
Abrir espaço para esse diálogo é abrir espaço para a vida. Quando alguém encontra a escuta, o acolhimento e a coragem de dizer “eu não aguento mais sozinho”, nasce também a possibilidade de reconstrução emocional. O silêncio adoece; a palavra compartilhada pode salvar.
Números que pedem atenção
A Organização Mundial da Saúde estima que mais de 700 mil pessoas tirem a própria vida a cada ano no mundo. No Brasil, são cerca de 14 mil vidas perdidas anualmente — uma média de 38 pessoas por dia. Entre jovens de 15 a 29 anos, o suicídio já é uma das principais causas de morte. Esses números não são apenas estatísticas: são histórias interrompidas, lares em luto, sonhos que poderiam ter florescido se houvesse mais espaço para falar e mais mãos estendidas para apoiar.
A cor que cura
O amarelo não foi escolhido por acaso. Ele representa luz, esperança e vida. Representa o amanhecer que insiste em nascer mesmo após noites longas. Cada fita, cada laço, cada monumento iluminado é um lembrete de que precisamos cuidar uns dos outros, de que precisamos reaprender a conversar sobre o que dói.
Falar sobre suicídio não incentiva a morte. Pelo contrário, falar sobre suicídio abre caminhos para que a vida seja revalorizada. Quando abrimos espaço para o diálogo, mostramos que existe saída, que existe rede, que existe esperança.
Um convite à escuta
O Setembro Amarelo nos convida a ser ponte. Ponte entre quem sofre e quem pode ajudar. Ponte entre o silêncio e a palavra. Ponte entre a escuridão e a possibilidade de amanhecer.
Que cada um de nós possa ser esse fio amarelo que sustenta, esse farol que ilumina, essa mão que se estende. Porque a vida, quando compartilhada, encontra força para seguir.



