Por Wanderley Ribeiro
Nesta semana trataremos do sistema educacional brasileiro. Para início deste texto, perguntaremos como o destacado professor Dermeval Saviani em seu já clássico “Sistema Educacional Brasileiro”, publicação da Autores Associados, São Paulo, 1987: “Existe sistema educacional, no Brasil”?
Tal pergunta, para muitos pode parecer absurda, afinal, o que é isso que nós temos formado, por exemplo, por escolas, legislações, recursos humanos que trabalham na instituição, os que a frequentam, a fim de se apropriar do saber formal passado de geração a geração etc. etc?
Pois bem, segundo Saviani, em sua Obra acima referida. Não existe sistema educacional, no Brasil.
O mestre paulista chega a esta conclusão desse modo. 1) parte da definição de sistema, que pode ser assim colocada: “É um conjunto de elementos formais ou materiais, onde esses elementos são interdependentes, de modo a formar um todo organizado”; 2) reflete sobre a definição de sistema e os graves problemas educacionais brasileiros, como, por exemplo, repetência, evasão, analfabetismo, formação de professores, dentre outros; 3) conclui, então, que, se sistema é esse “[…] todo organizado” e cujos “[…] elementos são interdependentes […]”, então, diante de nossa carência notória – altas taxas de repetência e analfabetismo, professores sem a devida qualificação etc. etc. –, não há sistema educacional, no Brasil.
À parte a conclusão enfática do eminente Saviani, prefiro afirmar que existe sim sistema educacional, no Brasil, porém com graves problemas, entraves, que precisam ser urgentemente solucionados para o bem da Nação e do seu povo.
Um desses graves problemas que merece especial destaque é a questão da repetência.
Durante muitos anos, no Brasil, pensava-se que o grande problema educacional brasileiro era de evasão e não de repetência. Explico: o ato de evadir — que o saudoso Paulo Freire dizia ser, na verdade, uma “Expulsão escolar” e não “evasão escolar” — acontece quando o estudante abandona a escola. E, a abandonava, por uma série de fatores, como ajudar os pais na colheita e semeadura, na zona rural. Acontece que, muitas vezes, esse estudante que abandonou a escola por se ver na iminência da reprovação, ano seguinte volta a se matricular, e, como não foi aprovado, é matriculado na mesma série. Ou seja, ele não é evadido, mas reprovado.
Desse modo, interpretando erradamente a estatística, chegava-se à conclusão que o aluno abandonou a escola porque, por exemplo, situava-se longe de sua residência. Então, vamos construir mais escolas, pois se a escola fosse próximo à sua casa, ele não a abandonaria.
O saudoso Sérgio Costa Ribeiro juntamente com Ruben Klein, ainda na década de 90, chegaram à conclusão que o maior problema do sistema educacional brasileiro era de repetência e não de evasão. Que a escola era (?) ineficiente e geradora do fracasso escolar. Que 95% do território nacional já está coberto por escolas e que não haveria necessidade de construir nos 5% restantes, dada a questão da miséria do nosso povo, pois não teria estudantes.
Desse modo, fica claro que temos graves problemas no nosso sistema educacional e que temos de enfrentá-los urgentemente, sob pena de não inserir nossas crianças e jovens nesse mercado de trabalho altamente seletivo, de não deixarmos de ser país rico de povo pobre e dependente, e, mais ainda, de não proporcionar cidadania aos nossos habitantes.
Referências
BARRETO, Camila. Consequências da repetência escolar. Disponível em: https://blog.forleven.com/2018/12/03/consequencias-da-repetencia-escolar/. Acesso em 16 set. 2019.
SAVIANI, Dermeval. Sistema Educacional Brasileiro. São Paulo: Autores Associados, 1987.